HIPERLEITURA
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Hiperleitura e escrileitura<br />
a série o objeto ideal para a atividade de escrileitura. São as estratégias do<br />
texto evocando as estratégias do hiperleitor, na construção de um objeto<br />
muito mais amplo que aquele previsto pela narrativa em livro, um efeito<br />
além da mera concretização do imaginário pela leitura linear. Uma tela e<br />
caixas de som que dispõem o mundo e a naturalidade na interface com a<br />
máquina são os dispositivos que faltavam para a inserção do hiperleitor no<br />
mundo daimaginação – e do virtual, da simulação. Tornar esse mundo o<br />
espaço da literatura é outra história. 19<br />
A literatura, que dificulta a percepção, deseja um fruidor – um leitor<br />
submerso no texto, uma leitura intensiva, mesmo que aliada ao prazer do<br />
consumo, da repetição, do conforto. O cibertexto 20 requer um usufruidor,<br />
um navegador suscetível ao fluxo, um jogador imerso numa rede de contextos,<br />
a visão periférica em alerta; o cibertexto exige uma leitura extensiva,<br />
fragmentada e dispersa. O texto literário, quando disperso no ciberespaço,<br />
transforma-se em “conteúdo” 21 , anexa-se ao cibertexto – perde as bordas<br />
paratextuais, quebra o protocolo que o objeto livro conferiu à literatura.<br />
Oferecido em um ereader ou tablet, diferentemente, o texto literário ainda<br />
tem seu espaço demarcado pelas bordas de um livro, um livro digital; aí,<br />
transforma-se, inserido no ciberespaço, em possibilidade de hipertexto.<br />
Esse hipertexto, ao alcance do hiperleitor, é que vai reconfigurar o<br />
sistema literário, em que todas suas instâncias se alteram pela convergência.<br />
Quando esses novos procedimentos de comunicação interferem<br />
nos processos de recepção e interpretação – entre textos, entre mídias,<br />
entre leitores – a leitura deixa de ser linear, assim como todas as atividades<br />
adjacentes às práticas de leitura. A leitura da série Harry Potter obedeceu<br />
à sua enunciação, foi linear e intensiva – e pode persistir sendo, no livro –<br />
enquanto forma textual que chamava o leitor para si, para as páginas em<br />
19<br />
E tornar o ato de imaginar uma ação na medida do que sugere Manguel: “Imaginar é dissolver<br />
barreiras, ignorar fronteiras, subverter a visão de mundo que nos foi imposta” (MANGUEL, Alberto.<br />
À mesa com o chapeleiro maluco: ensaios sobre corvos e escrivaninhas. São Paulo: Companhia das<br />
Letras, 2009, p. 50).<br />
20<br />
Um caminho de leitura de textos disponíveis no ciberespaço.<br />
21<br />
Mistura-se à massa de objetos imbricados – textos e mídias – cujos gêneros se hibridizam.