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HIPERLEITURA

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264<br />

Hiperleitura e escrileitura<br />

a série o objeto ideal para a atividade de escrileitura. São as estratégias do<br />

texto evocando as estratégias do hiperleitor, na construção de um objeto<br />

muito mais amplo que aquele previsto pela narrativa em livro, um efeito<br />

além da mera concretização do imaginário pela leitura linear. Uma tela e<br />

caixas de som que dispõem o mundo e a naturalidade na interface com a<br />

máquina são os dispositivos que faltavam para a inserção do hiperleitor no<br />

mundo daimaginação – e do virtual, da simulação. Tornar esse mundo o<br />

espaço da literatura é outra história. 19<br />

A literatura, que dificulta a percepção, deseja um fruidor – um leitor<br />

submerso no texto, uma leitura intensiva, mesmo que aliada ao prazer do<br />

consumo, da repetição, do conforto. O cibertexto 20 requer um usufruidor,<br />

um navegador suscetível ao fluxo, um jogador imerso numa rede de contextos,<br />

a visão periférica em alerta; o cibertexto exige uma leitura extensiva,<br />

fragmentada e dispersa. O texto literário, quando disperso no ciberespaço,<br />

transforma-se em “conteúdo” 21 , anexa-se ao cibertexto – perde as bordas<br />

paratextuais, quebra o protocolo que o objeto livro conferiu à literatura.<br />

Oferecido em um ereader ou tablet, diferentemente, o texto literário ainda<br />

tem seu espaço demarcado pelas bordas de um livro, um livro digital; aí,<br />

transforma-se, inserido no ciberespaço, em possibilidade de hipertexto.<br />

Esse hipertexto, ao alcance do hiperleitor, é que vai reconfigurar o<br />

sistema literário, em que todas suas instâncias se alteram pela convergência.<br />

Quando esses novos procedimentos de comunicação interferem<br />

nos processos de recepção e interpretação – entre textos, entre mídias,<br />

entre leitores – a leitura deixa de ser linear, assim como todas as atividades<br />

adjacentes às práticas de leitura. A leitura da série Harry Potter obedeceu<br />

à sua enunciação, foi linear e intensiva – e pode persistir sendo, no livro –<br />

enquanto forma textual que chamava o leitor para si, para as páginas em<br />

19<br />

E tornar o ato de imaginar uma ação na medida do que sugere Manguel: “Imaginar é dissolver<br />

barreiras, ignorar fronteiras, subverter a visão de mundo que nos foi imposta” (MANGUEL, Alberto.<br />

À mesa com o chapeleiro maluco: ensaios sobre corvos e escrivaninhas. São Paulo: Companhia das<br />

Letras, 2009, p. 50).<br />

20<br />

Um caminho de leitura de textos disponíveis no ciberespaço.<br />

21<br />

Mistura-se à massa de objetos imbricados – textos e mídias – cujos gêneros se hibridizam.

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