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HIPERLEITURA

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Hiperleitura e escrileitura<br />

desenvolvam seus trabalhos a partir de relatos de histórias de leitura, caso<br />

de Fabiane Burlamaque e Diana Noronha, por exemplo. Burlamaque debruçou-se<br />

sobre as experiências de recepção de três gerações de mulheres<br />

pertencentes a cinco famílias de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, Brasil. A<br />

partir dos relatos dessas mulheres, a pesquisadora, não apenas, pôde traçar<br />

seus perfis como leitoras, mas reconstruiu um panorama histórico capaz<br />

de explicitar os materiais de leitura em circulação, as práticas de leitura<br />

sociais e individuais e mesmo certas competências daquele grupo social.<br />

Modos de pensar o literário, questões de gênero, cânone e interpretações<br />

dos textos também foram evidenciadas através das narrativas, como no<br />

depoimento de uma das senhoras da segunda geração pesquisada sobre<br />

suas leituras atuais:<br />

Eu procuro ler só coisa boa, coisas que gosto. Assim como atualidade,<br />

para minha atualização, eu leio a Veja, porque eu acho que<br />

a gente tem de estar por dentro. Eu não leio mais literatura tipo<br />

Danielle Steel, Sidney Sheldon, já li muito, mas já passei desta<br />

fase, tudo começa e termina igual. Eu gosto de ler Isabel Allende,<br />

Saramago, maravilhoso, gosto de ler Assis Brasil, coisas boas. Agora<br />

estou lendo Zélia Gattai, Senhora dona do baile, que uma amiga<br />

me emprestou. Então, eu gosto de ler coisas boas, literatura mais<br />

elevada no sentido de melhor proveito. Porque tem a literatura de<br />

distração, aquela da Steel, que é água com açúcar, tu abres o livro<br />

e é sempre a mesma coisa: aquela moça pobre, bonita e sofredora<br />

encontra o milionário bonitão e tal, é tudo sempre igual. LIII<br />

“Tudo é sempre igual”, relata a leitora sobre as histórias “de distração”,<br />

plenamente consciente do tipo de leitura da qual ela pode agora tirar “proveito”.<br />

Uma das principais perguntas a que a pesquisadora Diana Noronha<br />

ocupou-se em responder em sua pesquisa foi “o que fazem os livros com<br />

as pessoas que os leem?”; dessa forma, é o efeito do texto literário sobre<br />

o leitor um dos tópicos de sua conclusão. Refletindo sobre o processo de<br />

formação do leitor e as relações que ele mantém com o literário, a pesquisadora<br />

surpreendeu-se com o impacto de algumas leituras na vida dos<br />

entrevistados, cujas implicações incluíam, não apenas, o autoconhecimento,<br />

mas o exercício da intersubjetividade. Em seus relatos, experiências de

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