HIPERLEITURA
WG5b2B
WG5b2B
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
158<br />
Hiperleitura e escrileitura<br />
desenvolvam seus trabalhos a partir de relatos de histórias de leitura, caso<br />
de Fabiane Burlamaque e Diana Noronha, por exemplo. Burlamaque debruçou-se<br />
sobre as experiências de recepção de três gerações de mulheres<br />
pertencentes a cinco famílias de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, Brasil. A<br />
partir dos relatos dessas mulheres, a pesquisadora, não apenas, pôde traçar<br />
seus perfis como leitoras, mas reconstruiu um panorama histórico capaz<br />
de explicitar os materiais de leitura em circulação, as práticas de leitura<br />
sociais e individuais e mesmo certas competências daquele grupo social.<br />
Modos de pensar o literário, questões de gênero, cânone e interpretações<br />
dos textos também foram evidenciadas através das narrativas, como no<br />
depoimento de uma das senhoras da segunda geração pesquisada sobre<br />
suas leituras atuais:<br />
Eu procuro ler só coisa boa, coisas que gosto. Assim como atualidade,<br />
para minha atualização, eu leio a Veja, porque eu acho que<br />
a gente tem de estar por dentro. Eu não leio mais literatura tipo<br />
Danielle Steel, Sidney Sheldon, já li muito, mas já passei desta<br />
fase, tudo começa e termina igual. Eu gosto de ler Isabel Allende,<br />
Saramago, maravilhoso, gosto de ler Assis Brasil, coisas boas. Agora<br />
estou lendo Zélia Gattai, Senhora dona do baile, que uma amiga<br />
me emprestou. Então, eu gosto de ler coisas boas, literatura mais<br />
elevada no sentido de melhor proveito. Porque tem a literatura de<br />
distração, aquela da Steel, que é água com açúcar, tu abres o livro<br />
e é sempre a mesma coisa: aquela moça pobre, bonita e sofredora<br />
encontra o milionário bonitão e tal, é tudo sempre igual. LIII<br />
“Tudo é sempre igual”, relata a leitora sobre as histórias “de distração”,<br />
plenamente consciente do tipo de leitura da qual ela pode agora tirar “proveito”.<br />
Uma das principais perguntas a que a pesquisadora Diana Noronha<br />
ocupou-se em responder em sua pesquisa foi “o que fazem os livros com<br />
as pessoas que os leem?”; dessa forma, é o efeito do texto literário sobre<br />
o leitor um dos tópicos de sua conclusão. Refletindo sobre o processo de<br />
formação do leitor e as relações que ele mantém com o literário, a pesquisadora<br />
surpreendeu-se com o impacto de algumas leituras na vida dos<br />
entrevistados, cujas implicações incluíam, não apenas, o autoconhecimento,<br />
mas o exercício da intersubjetividade. Em seus relatos, experiências de