HIPERLEITURA
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Ana Cláudia Munari Domingos 61<br />
naquela ocasião, tratar-se da quebra de um paradigma, já que a sua conferência<br />
seria uma reação à crítica tradicional, que ora considerava o leitor apenas<br />
por sua posição em determinada estrutura (social, econômica, cultural, ideológica),<br />
ora o ignorava em prol de uma análise puramente imanentista, ora<br />
lhe relegava o papel da percepção, em que o sentido do texto surgiria como<br />
um reflexo da produção do autor, captada pelo receptor. Jauss propunha,<br />
diferentemente dos outros estudos, que o leitor tivesse um papel ativo na<br />
compreensão do sistema literário pela crítica, inserido no contexto de uma<br />
História da Literatura estabelecida também pela cadeia de recepção e não<br />
apenas na perspectiva do produtor:<br />
Se se olhar a História da literatura no horizonte do diálogo entre<br />
obra e público, diálogo responsável pela construção de uma<br />
continuidade, deixará de existir uma oposição entre aspectos<br />
históricos e aspectos estéticos, e poderá restabelecer-se a ligação<br />
entre as obras do passado e a experiência literária de hoje que o<br />
historicismo rompeu. VIII<br />
A provocação de Jauss tinha como fundamento a oposição às críticas<br />
marxista, formalista e estruturalista, então em voga – e sua prática historicista.<br />
Para ele, a crítica literária deveria incluir a história da interpretação<br />
das obras, em que a compreensão de um texto, incluindo a medida de seu<br />
mérito artístico, poderia ser avaliada por sua capacidade de romper ou não<br />
os horizontes de expectativa do leitor. A ideia de “fusão de horizontes”<br />
havia sido proposta por H. G. Gadamer 14 , para quem a leitura apresenta-se<br />
sob a forma dialética da pergunta e da resposta, uma troca de questões<br />
entre texto e leitor. Aí estaria a proposta de uma nova história da literatura,<br />
diferente daquela a que os formalistas propunham exortar: a questão<br />
histórica residiria na maneira com que o leitor toma para si as questões do<br />
texto, respondendo-as e ainda lançando as suas próprias. IX<br />
14<br />
O filósofo Hans-Georg Gadamer defendia a consciência histórica como necessária à interpretação<br />
do conhecimento humano. O eixo possível para essa interpretação estaria na posição entre<br />
tradição e horizontes de sentido, midiada pela linguagem. O foco recai, portanto, não mais para<br />
o objeto, mas para sua constituição pela linguagem que, por sua vez, tem um substrato histórico.<br />
(GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica.<br />
Petrópolis: Vozes, 2002).