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HIPERLEITURA

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66<br />

Hiperleitura e escrileitura<br />

literário; sua atividade, entretanto, restringia-se a um papel na formação<br />

de sentido, antes virtudes do autor e seu texto, apenas.<br />

A ciência literária dividiu-se, a partir daí, pela sua tomada de posição<br />

na questão do grau e da pertinência da função do leitor na construção de<br />

sentidos dos textos literários. Quando Barthes XIV anunciou a morte do autor,<br />

logo a seguir ao discurso de Jauss, referendou-se a problemática já constituída<br />

da autoridade sobre a interpretação – texto versus leitor. O próprio Barthes<br />

enxergou no leitor o destino da unidade do texto, seu sentido; entretanto,<br />

sua concepção via na recepção um lugar, a intersecção de todos os planos<br />

significativos, e não um sujeito construtor de sentido.<br />

Numa fase anterior, I. A. Richards foi um precursor, dentro dos estudos<br />

da Escola de Cambridge, por considerar a importância da leitura e, ainda, por<br />

dissolver a problemática da instabilidade de sentido da literatura – que ele<br />

julgava intrínseca e natural, não um problema a ser superado. Rejeitando a<br />

supremacia do leitor como produtor de sentido, Richards sugeriu que o texto<br />

literário permitia-se a existência de abismos, cabendo ao leitor construir<br />

pontes entre eles. Dessa forma, Richards tanto influenciou as teorias que<br />

consideravam a autoridade do texto sobre o processo interpretativo, como<br />

o New Criticism 19 , quanto as teorias da recepção, como o Reader-Response<br />

Criticism 20 , que viam esse preenchimento do leitor como uma atividade de<br />

construção de sentido.<br />

Os teóricos da New Criticism, por seu turno, acreditavam na inerência<br />

da ambiguidade em relação aos modos de produção do literário, rejeitando<br />

que ela pudesse estar no efeito do texto. Para eles, a busca por um leitor<br />

ideal 21 , por exemplo, era a justificativa dos críticos estruturalistas para su-<br />

19<br />

New-criticism é uma vertente crítica norte-americana que se debruça sobre o texto, rejeitando<br />

as concepções sociológicas, históricas e psicológicas de interpretação do objeto literário. A vertente<br />

inglesa, sob a influência de Richards, da Escola de Cambridge, pensava esse foco no texto de forma<br />

diferente, defendendo uma prática crítica “inteligente”, acadêmica, que fosse capaz de perceber as<br />

particularidades do texto sem recorrer a quaisquer teorias adjuntas.<br />

20<br />

Vertente norte-americana das teorias que punham o leitor no eixo do sistema literário.<br />

21<br />

“Ideal” não como o sentido explicitado por Prince, ao dividir o receptor em categorias: leitor<br />

“real” – empírico –, “virtual” – aquele imaginado pelo autor ao escrever o texto, e “ideal”, aquele<br />

leitor cuja interpretação concorda integralmente com o texto, ou seja, que faz a leitura ideal daquele<br />

texto.

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