HIPERLEITURA
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Hiperleitura e escrileitura<br />
literário; sua atividade, entretanto, restringia-se a um papel na formação<br />
de sentido, antes virtudes do autor e seu texto, apenas.<br />
A ciência literária dividiu-se, a partir daí, pela sua tomada de posição<br />
na questão do grau e da pertinência da função do leitor na construção de<br />
sentidos dos textos literários. Quando Barthes XIV anunciou a morte do autor,<br />
logo a seguir ao discurso de Jauss, referendou-se a problemática já constituída<br />
da autoridade sobre a interpretação – texto versus leitor. O próprio Barthes<br />
enxergou no leitor o destino da unidade do texto, seu sentido; entretanto,<br />
sua concepção via na recepção um lugar, a intersecção de todos os planos<br />
significativos, e não um sujeito construtor de sentido.<br />
Numa fase anterior, I. A. Richards foi um precursor, dentro dos estudos<br />
da Escola de Cambridge, por considerar a importância da leitura e, ainda, por<br />
dissolver a problemática da instabilidade de sentido da literatura – que ele<br />
julgava intrínseca e natural, não um problema a ser superado. Rejeitando a<br />
supremacia do leitor como produtor de sentido, Richards sugeriu que o texto<br />
literário permitia-se a existência de abismos, cabendo ao leitor construir<br />
pontes entre eles. Dessa forma, Richards tanto influenciou as teorias que<br />
consideravam a autoridade do texto sobre o processo interpretativo, como<br />
o New Criticism 19 , quanto as teorias da recepção, como o Reader-Response<br />
Criticism 20 , que viam esse preenchimento do leitor como uma atividade de<br />
construção de sentido.<br />
Os teóricos da New Criticism, por seu turno, acreditavam na inerência<br />
da ambiguidade em relação aos modos de produção do literário, rejeitando<br />
que ela pudesse estar no efeito do texto. Para eles, a busca por um leitor<br />
ideal 21 , por exemplo, era a justificativa dos críticos estruturalistas para su-<br />
19<br />
New-criticism é uma vertente crítica norte-americana que se debruça sobre o texto, rejeitando<br />
as concepções sociológicas, históricas e psicológicas de interpretação do objeto literário. A vertente<br />
inglesa, sob a influência de Richards, da Escola de Cambridge, pensava esse foco no texto de forma<br />
diferente, defendendo uma prática crítica “inteligente”, acadêmica, que fosse capaz de perceber as<br />
particularidades do texto sem recorrer a quaisquer teorias adjuntas.<br />
20<br />
Vertente norte-americana das teorias que punham o leitor no eixo do sistema literário.<br />
21<br />
“Ideal” não como o sentido explicitado por Prince, ao dividir o receptor em categorias: leitor<br />
“real” – empírico –, “virtual” – aquele imaginado pelo autor ao escrever o texto, e “ideal”, aquele<br />
leitor cuja interpretação concorda integralmente com o texto, ou seja, que faz a leitura ideal daquele<br />
texto.