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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 95<br />

incerteza: “O Sr. Dursley talvez estivesse mergulhado num sono inquieto” 55 ,<br />

levando o leitor a pensar que ele não tem poderes sobrenaturais, que é um<br />

mero contador trouxa da história e que, assim, cabe ao leitor fazer relações<br />

entre os acontecimentos que ele vai narrar. O esforço do leitor tem início na<br />

percepção de que há algo que, antes de ser revelado, precisa ser descoberto.<br />

A atitude do narrador em Harry Potter leva-nos a duas interpretações<br />

diferentes: a primeira nos conduz a crer que ele tem opiniões avaliativas<br />

sobre os acontecimentos que está narrando e que vai divulgá-las; já a<br />

segunda mostra-nos que ele ignora muitos detalhes dessa história e, ao<br />

mesmo tempo, exime-se de manifestar o que pensa sobre ela. Essa postura<br />

contraditória do narrador estimula a participação do leitor, porque o obriga<br />

a manter uma posição de desconfiança, estimulando-o a pensar sobre o<br />

que lê antes de cada avaliação. Por outro lado, confere certa expectativa ao<br />

leitor diante da hipótese de que possa ser agraciado com novos comentários<br />

nas próximas linhas, o que o colocaria em vantagem em relação às próprias<br />

personagens. Sobre essa perspectiva, declara Iser:<br />

Assim, o narrador regula a distância entre o leitor e os eventos e,<br />

ao fazê-lo, produz o efeito estético da história. Ao leitor é dada<br />

apenas informação suficiente para mantê-lo orientado e interessado,<br />

mas o narrador, deliberadamente, deixa abertas as inferências<br />

que deverão ser extraídas dessa informação. Em consequência,<br />

espaços vazios são levados a ocorrer, estimulando a imaginação<br />

do leitor a averiguar a assunção que poderia ter motivado a atitude<br />

do narrador. Dessa forma, nos envolvemos porque reagimos aos<br />

pontos de vista antecipados pelo narrador. LII<br />

Para o teórico alemão, esses comentários que levam a suposições –<br />

“estava enganado” – podem fazer o leitor perceber que há alguém se interpondo<br />

entre ele e a história, como se o autor fosse o mediador e exigisse<br />

atenção para ele, tanto quanto para a narrativa. Em Harry Potter, não há<br />

uma intromissão nesse nível, já que é seguida uma fórmula parecida com a<br />

dos contos de fadas. Nesses, o narrador apenas narra as ações, eximindo-se<br />

de manifestar opinião; no entanto, seu posicionamento fica claro pela forma<br />

55<br />

HP 1, p. 12. Grifo meu.

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