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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 83<br />

da sua condição de inapreensível, tenho utilizado o termo “leitor invisível”<br />

para designar aquele que, desde Jauss, foi descrito como uma instância<br />

textual, em contrapartida ao leitor empírico – o hiperleitor –, que responde<br />

ao texto através de sua escrita. O termo aplicável, no entanto, àquele leitor<br />

presente nas lacunas do texto, inerente à indeterminação e à assimetria,<br />

seria “leitor implícito”. O “papel do leitor”, julgo, está relacionado às suas<br />

entradas, como o próprio Gumbrecht interpõe, citando Iser, ao “processo<br />

de transferência”, ação em que as estruturas textuais se movem para o<br />

campo de referências da recepção.<br />

A outra questão refere-se à proposição de estruturas constantes, pela<br />

Estética do Efeito, ou da impossibilidade de elas serem definidas de modo a<br />

que sua repetição seja verificável nos textos literários – constatação inegável.<br />

Se a instância do leitor foi, em princípio, a justificativa para a incontestável<br />

instabilidade do texto, decerto não o foi por impor objetividade, mas justamente<br />

pelo fato irrefutável de que o texto existe apenas na mente do leitor<br />

– e que, portanto, sua configuração exata nunca pode ser medida. Como<br />

encontrar, dessa forma, estruturas constantes desse leitor implícito, como<br />

paralelismo ou substituição às estruturas textuais? Pergunta respondida<br />

por Gumbrecht, como mostro na página anterior. O objeto estético a que<br />

este estudo procura visualizar, portanto, não é mensurável por quaisquer<br />

constantes, mas pressentível na interação entre aquele leitor implícito – a<br />

estrutura de indeterminação do texto (o leitor invisível) – e a resposta do<br />

leitor real (o escrileitor) – a fanfiction.<br />

Sabe-se das dificuldades do exercício de uma análise crítica a partir da<br />

esfera da recepção. É justamente o entendimento de que seu principal eixo<br />

avaliativo – o leitor implícito 38 – é, ao mesmo tempo, a metáfora 39 que a<br />

sustenta como teoria e o entrave para o procedimento metodológico, que<br />

38<br />

É a instância textual do leitor, como já descrevemos.<br />

39<br />

Conforme Iser: “A metáfora aqui funciona como o arremate do sistema, pelo qual uma teoria<br />

alcança este patamar”. Ou seja, uma representação que possibilite à teoria descrever o fato. ISER,<br />

Wolfgang. Problemas da teoria da literatura atual: o imaginário e os conceitos-chave da época.<br />

(In: LIMA, Luiz Costa (org.). Teoria da literatura em suas fontes. Vol. 2. p. 927-953. Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 2002, p. 934.)

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