HIPERLEITURA
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Ana Cláudia Munari Domingos 87<br />
em instâncias textuais, temos, de um lado, o narrador como emissor e, de<br />
outro, o leitor implícito como receptor. No entanto, pensando na palavra<br />
interação como um jogo recíproco entre texto e leitor e, ainda, relacionando<br />
a abordagem comunicacional à Estética do Efeito, podemos estabelecer<br />
outras conjeturas.<br />
Quando formula a hipótese da interação entre texto e leitor numa<br />
perspectiva da “teoria da comunicação” 44 , Iser repete os conceitos formulados<br />
em Ato de leitura, apenas renomeando-os. Permanecem as noções<br />
já aqui explicitadas de repertório, seleção, combinação, atualização, tema e<br />
horizonte, nas mesmas medidas e funções: a atualização, como procedimento<br />
de significação, vai sendo erigida pelo leitor à medida que ele invoca seu<br />
próprio repertório para preencher a indeterminação, combinando tanto<br />
os aspectos esquematizados do texto entre eles mesmos, como entre<br />
sua seleção dos aspectos textuais e seu próprio repertório. Na Estética<br />
do Efeito, é a estrutura de indeterminação do texto que conversa com o<br />
leitor, ou que, nas palavras de Iser, invoca sua resposta. Tal resposta é o<br />
preenchimento do leitor.<br />
O polo emissor é, assim, a estrutura esquematizada pelo narrador, que<br />
seleciona e combina as perspectivas que ele insere no texto, construindo<br />
uma tessitura lacunar. E o polo receptor é o preenchimento de lacunas pelo<br />
leitor. O caráter de reciprocidade da interação prevê que, da mesma forma,<br />
o leitor selecione e combine tais esquemas, em que compreendemos também<br />
o texto literário como um processo. Na Estética do Efeito, o sentido<br />
que resulta da interação entre texto e leitor é o efeito, o objeto estético<br />
final, aquilo que acontece entre eles, também um processo. As categorias,<br />
portanto, não são estáticas, mas “procedimentos”.<br />
Nessa abordagem de Iser, “o sentido não é o horizonte final do texto<br />
literário” XLII , mas sim, o imaginário. O conceito de imaginário é recorrente<br />
na teoria iseriana, embora o próprio autor o considere no âmbito do ina-<br />
44<br />
Essa é a forma referida por Iser. Embora ele não especifique que teoria, entre as da Comunicação,<br />
ele utiliza, fica subentendido que se tratam daqueles postulados que se referem aos processos de<br />
comunicação, seus elementos, práticas e sentidos – em que ele toma texto e leitor como parâmetros.<br />
Essa é também a “teoria da comunicação” a que este trabalho se refere.