HIPERLEITURA
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Hiperleitura e escrileitura<br />
dos atos de recepção diante do inter, multi, trans ou hipermidiático espaço<br />
de confluência de mídias, artes e textos.<br />
Em 1996 48 , Lúcia Santaella já relatava, lendo Ascott 49 , que a revolução<br />
tecnológica que ora ocorria transformava o “cérebro humano (e) estendendo<br />
nossa noção de mente, uma mente do tamanho do mundo em corpos<br />
que desenvolvem a capacidade de ciberpercepção” XLVI . A convergência de<br />
mídias, gêneros e linguagens na página diante do leitor certamente torna<br />
a prática leitora um tanto distinta daquela praticada diante de uma página<br />
de papel: nossas capacidades de percepção e cognição não são apenas solicitadas<br />
diferentemente, mas também acabam sendo alteradas pela própria<br />
prática, como bem apontou Santaella em 2004, pesquisando questões<br />
como a pluripercepção e a coordenação viso-motora dos navegadores em<br />
ambientes multimídias. 50<br />
O lugar dessa convergência é o ciberespaço. Ler um texto 51 hipermídia<br />
significa estar conectado. Todo receptor de hipermídia reveste-se do internauta,<br />
a persona que navega: olhos na tela, dedos no mouse e no teclado,<br />
todos os sentidos convergindo para a hiperpercepção – visão, audição, fala<br />
e tato. É o hiperleitor, termo que eu considero apropriado para o receptor<br />
de hipermídia, aquele que pratica a hiperleitura, palavras que ainda não<br />
são usuais – muitos críticos preferem o termo “leitor de hipertexto”. E é<br />
assim que o hiperleitor lê: assistindo, escutando, falando e tateando. Esse<br />
receptor da era cibernética, no entanto, carrega consigo tais atributos e<br />
48<br />
Segunda edição, alterada, de Cultura das mídias.<br />
49<br />
O texto citado é: ASCOTT, Roy. Cultivating the hypercortex. São Paulo: Memorial da América<br />
Latina, novembro de 1995.<br />
50<br />
Diferentemente da visão que vê no internauta um ser estático, conectado a um mundo virtual<br />
apenas pela movimentação dos olhos na tela, com a mente plugada e o corpo inerte, a autora<br />
mostra, a partir das teorias de James Gibson, que todo um conjunto de percepções é ativada nesse<br />
leitor conectado ao ciberespaço, que lê imagens, acompanha o movimento, ouve sons, lê textos<br />
os mais diversos, símbolos, ícones, e, sobretudo, tem o poder de interação através da linguagem<br />
hipermídia. Os resultados de suas pesquisas colocam em evidência questões relacionadas à capacidade<br />
motora do leitor imersivo, como a concatenação entre o manuseio do mouse e a percepção<br />
visual – habilidades que estamos, nós, sociedade digital, adquirindo ao curso rápido de gigabytes<br />
de velocidade. SANTAELLA, Lúcia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São<br />
Paulo: Paulus, 2004.<br />
51<br />
Enfim, como o próprio Clüver sugere, frente a conotação dos termos da Literatura Comparada,<br />
“texto” é qualquer produção em mídia, neste caso, na área da arte e da cultura.