HIPERLEITURA
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Hiperleitura e escrileitura<br />
conteúdo, posto que a primeira e a última linhas vão se alterando à<br />
medida que avançamos, sempre dentro da moldura fixa da tela. XXXIII<br />
Na hiperleitura, os sentidos têm existência volátil, configurada por<br />
caminhos virtuais. Como nas redes sociais, simulamos nosso contato com<br />
o mundo, e tudo tem de ser ágil, fragmentado, multimidiático, a fim de nos<br />
captar em todos os sentidos, para que nos tornemos consumidores vorazes.<br />
De um lado, lemos o tempo todo, de outro, informações nos atravessam<br />
sem que tenhamos consciência, tempo e capacidade para ler e interpretar,<br />
menos ainda de refletir sobre elas. É a geração dos ledores de telas, à frente<br />
de cujos olhos textos e mídias escorregam pelo toque já automático do<br />
dígito. Nessa prática de leitura, os vazios são preenchidos pelo imaginário<br />
a que se chega também pela navegação virtual (muito distante daquela que<br />
Jorge Luis Borges parece realizar naquela conhecida fotografia em que ele<br />
está de olhos firmemente cerrados 37 ), a partir de links para outras mídias e<br />
textos, construindo um caminho de leitura bastante diferente daquele que<br />
nossa imaginação, sozinha, é capaz de realizar. No ciberespaço, o castelo<br />
de Hogwarts já foi concretizado pela Warner, Harry tem a face de Daniel,<br />
a verdadeira Estação King Cross pode ser visitada, a Rua dos Alfeneiros não<br />
existe no Google Maps.<br />
A expressão “preencher os vazios” tem realmente adquirido um novo<br />
sentido nestes tempos de mídias interativas. Com frequência, temos assistido<br />
à intervenção dos receptores na transmissão de informações pelas empresas<br />
de comunicação: leitores-repórteres enviando fotos e notícias em tempo<br />
real – atestando, completando, transformando o conteúdo dado –, leitores<br />
resenhando livros em sites de livrarias e comentando suas leituras em blogs<br />
– às vezes interagindo com o próprio autor –, consumidores participando<br />
da produção – inserindo diferenças nos objetos que consomem. Enfim: o<br />
lado de lá da criação – o receptor – marca posições muito visíveis no texto.<br />
37<br />
Nessa imagem, Borges está com a cabeça levemente inclinada para o alto, com os olhos cerrados,<br />
como se, mesmo cego, precisasse apagar a realidade visual para imaginar aquilo que ouve.<br />
Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/110-anos-de-borges/. Acesso em: dez.<br />
2010.