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HIPERLEITURA

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78<br />

Hiperleitura e escrileitura<br />

de outro, a vertente que permanece voltada ao texto, buscando nele os<br />

vestígios do leitor e estabelecendo apenas possibilidades de leitura. Teorias<br />

sobre esse leitor intrínseco abrem um leque de ideias sobre o funcionamento<br />

dessa estrutura textual que inclui em si a instância da recepção – leitor<br />

modelo, leitor implícito, enfim, mas, em todas, o vazio permanece como<br />

uma possível pista de sua existência.<br />

Quando a própria Estética da Recepção permite que pensemos a apreensão<br />

da formação de sentido como uma descrição do efeito do texto sobre<br />

o leitor – o que acontece com ele através da leitura –, é possível considerar<br />

não apenas de que forma convenções e expectativas entram em jogo no<br />

ato da recepção, através da formatação de esquemas e do preenchimento<br />

de lacunas 33 , mas pensar a concretização do texto também na perspectiva<br />

de que a resposta do leitor pode extrapolar o nível do virtual e acontecer<br />

materialmente 34 . Como anota Chartier sobre a interferência dos novos<br />

suportes nos procedimentos de leitura, a zona de ação não mais se restringiria<br />

às bordas do texto, pois “o leitor não é mais constrangido a intervir<br />

na margem, no sentido literal ou no sentido figurado. Ele pode intervir no<br />

coração, no centro” XXX . Como supõe o Reader-Response Criticism, ler e<br />

escrever tornam-se uma atividade única no ato de interpretação 35 .<br />

A escrita do leitor registra, também nas páginas, as formulações que ele<br />

realiza para interpretar o texto. Alcançar a formação de sentido é, assim,<br />

construir uma história de leitura, em que todas as instâncias do sistema<br />

literário – autor, texto, leitor, crítica – devem ser vistas sob a premissa da<br />

transformação, incluindo os modos de recepção, constantemente afetados<br />

33<br />

Frisando: conforme Wolfgang Iser, teórico da Estética da Recepção e autor da Teoria do Efeito,<br />

a participação do leitor na formação do sentido se dá principalmente através do preenchimento<br />

de vazios, as lacunas entre os esquemas do texto, os não ditos. Quanto maior o volume de lacunas,<br />

maior o grau de indeterminação do texto, por conseguinte, maior é a atividade do leitor para<br />

concretizá-lo.<br />

34<br />

Tal como acontece no caso da fanfiction, em que o leitor responde sobre sua leitura através da<br />

escrita de outras histórias.<br />

35<br />

“Reading and writing join hands, change places, and finally become distinguishable only as two<br />

names for the same activity”. (TOMPKINS, Jane. An introduction to Reader-response Criticism. In:<br />

TOMPKINS, Jane (Org.). Reader-response Criticism. Baltimore and London: The Johns Hopkins University<br />

Press, 1980, p. X.)

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