15.01.2016 Views

HIPERLEITURA

WG5b2B

WG5b2B

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ana Cláudia Munari Domingos 13<br />

um leitor que, como o próprio Barthes já proclamava, não é apenas um<br />

consumidor, mas um produtor de textos.<br />

O que dizer de um leitor que utiliza a imaginação não apenas para ler<br />

o texto, mas para escrevê-lo? Foi com a intenção de alcançar esse novo<br />

receptor – um hiperleitor que eu chamo de escrileitor 4 – que meu estudo<br />

percorreu alguns de seus caminhos, buscando revelar as concretizações<br />

que ele realiza através de sua escrita, ao preencher as lacunas do texto. A<br />

dificuldade inicial para tal proposição evoca questões metodológicas: que<br />

teoria seria capaz de permitir entrever caminhos de leitura numa prática<br />

escrita – e não no texto –, na reescritura ou, como sugiro, na escrileitura 5 ?<br />

A resposta está no fenômeno que provoca a pesquisa que originou este<br />

livro e que já dura onze anos: se a perspectiva metodológica é sugerida<br />

pelo corpus e pela hipótese, é possível que, em vez da consecutiva teoria,<br />

surja a presunção (mesma) de uma tese: a chamada para novas teorias que<br />

deem conta de um novo objeto.<br />

O objeto a provocar essas ideias foi a série de narrativas Harry Potter,<br />

de J. K. Rowling, visto não apenas ter alcançado um grande número de<br />

leitores, mas justamente porque sua recepção configura-se de forma peculiar.<br />

No entanto, é preciso frisar que, como elemento de análise, tanto na<br />

perspectiva do texto ficcional como na produção de seu leitor, a série foi<br />

por mim eleita na medida de um exemplo claro do que vem ocorrendo no<br />

mundo da leitura e não é, de modo algum, um acontecimento à margem<br />

do mundo literário. Nem tanto porque outras obras apareceram ou foram<br />

descobertas pelos leitores, mas principalmente pelo acesso cada vez mais<br />

frequente às novas mídias pelos receptores, evidencia-se a contingência<br />

cada vez mais ampla da dissipação dos limites entre produção e consumo no<br />

campo dos produtos culturais – e entre escrita e leitura no âmbito literário.<br />

4<br />

Termos cujos significados serão aprofundados neste livro. Sinteticamente, o hiperleitor é aquele<br />

que lê hipermídia; o escrileitor é aquele que cria a partir do que lê, em uma atividade criativa de<br />

interpretação.<br />

5<br />

Neologismo feito pela aglutinação das palavras escritura e leitura, já utilizado por Pedro Barbosa<br />

a partir da ideia de wreader (e wreading) e laucteur. Aqui significa a prática em que o leitor produz<br />

um objeto – escreve – a partir da interpretação de outro objeto: escreve lendo. Será aprofundado<br />

no quarto capítulo.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!