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HIPERLEITURA

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Hiperleitura e escrileitura<br />

A construção de cada volume em capítulos também insere cortes nos<br />

momentos de decisão da fábula, o que induz à leitura continuada, a fim de<br />

preencher os esquemas semânticos da narrativa. Por fim, ou para desconstruir<br />

esse fim, ao término de cada volume há a inclusão do primeiro capítulo<br />

do seguinte, aí uma estratégia mercadológica paratextual que leva o leitor a<br />

adquirir o próximo livro mal ele termina o anterior. Esse espaço que a autora<br />

(e seus agentes) deixa entre as publicações auxilia, certamente, a aumentar<br />

a busca pelo novo volume. É uma jogada estratégica, sobre a qual Iser já<br />

falava: “a publicidade tem um papel importante nesse tipo de publicação:<br />

o romance precisa ser apresentado, a fim de atrair um público para si” XXIV .<br />

Essa foi a estratégia de Rowling na série Harry Potter. Além de toda<br />

uma campanha em torno da chegada de uma nova história de Harry e a<br />

anexação de uma vasta quantia de produtos ligados ao bruxinho – a sedução<br />

mercadológica –, há o estímulo pela curiosidade; afinal, que leitor<br />

não deseja saber o grand finale daquele que já tomou e conquistou grande<br />

parte de seu tempo? Refeitos do gasto com o livro anterior – outra tática –,<br />

correm todos à livraria, ávidos por uma nova aventura, garantindo também<br />

o assunto para muitas conversas. Assim, podemos dizer que o espaço entre<br />

textos – uma lacuna concreta – permite ao leitor uma série de inferências,<br />

conexões e troca de informações, que acabam por aumentar o grau de<br />

indeterminação; pois, como diz Iser: “[...] isso ocorre, principalmente,<br />

porque introduz lacunas adicionais, ou alternativamente, acentua lacunas<br />

existentes, por meio de uma pausa, até o próximo fascículo”. XXV<br />

Rowling, ao construir a história de Harry Potter, organizou-a em partes,<br />

optando, desde o princípio, por uma estrutura única que fosse dividida<br />

em sete volumes. Marc Shapiro, em J. K. Rowling, the wizard behind Harry<br />

Potter XXVI , informa que a autora teria escrito o último capítulo antes dos<br />

volumes anteriores, temendo perder-se – ou à criatividade – em meio ao<br />

emaranhado de enredos e detalhes para o qual ela já havia previsto determinado<br />

desfecho. O fato de ter estruturado, originalmente, a narrativa dessa<br />

forma permite a Rowling introduzir explícita e propositalmente lacunas no<br />

texto; afinal, ela já tem formatado o esquema do futuro. Desse modo, lhe é

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