HIPERLEITURA
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18<br />
Hiperleitura e escrileitura<br />
uma série de especulações que envolviam encontrar nos volumes anteriores<br />
provas de que ela poderia estar viva, como desejava o leitor.<br />
Em seguida ao lançamento do sexto livro em português, em novembro<br />
de 2005, o volume de postagens de fanfics sobre Harry Potter foi tão intenso<br />
que provocou congestionamentos na rede, obrigando, inclusive, que um<br />
dos websites 12 zerasse, em fevereiro de 2006, seu arquivo de fanfictions,<br />
passando a recadastrar seus escritores e usuários. Uma prova, talvez, das<br />
desvantagens provocadas pela efemeridade do suporte.<br />
Além de narrativas sobre a série, há uma extensa produção de material<br />
que evoca personagens, temas, histórias paralelas, nos mais variados<br />
gêneros digitais 13 – imagem, animação, montagem, música, poesia, filme<br />
– hiperpovoando o ciberespaço da internet. Também nas redes sociais<br />
multiplicaram-se as páginas e as postagens com opiniões e críticas sobre<br />
a série. Grande parte dos leitores de Harry Potter posta ou já postou algum<br />
conteúdo 14 digital sobre a obra. E escrever narrativas é a principal forma<br />
de resposta à leitura.<br />
Se foi preciso uma revolução para que o escritor perdesse o monopólio<br />
da palavra 15 , que evidências se conflagram, agora, quando o leitor, insatisfeito<br />
talvez com a virtualidade de sua escritura, reveste-se também da função<br />
de indutor de ambiguidades 16 , recusando seu lugar no texto – justamente<br />
este: o de revertê-las?<br />
12<br />
Isso aconteceu com o website Três Vassouras, que foi fechado.<br />
13<br />
Que poderiam ser chamados de subgêneros ou formatos – não pretendo entrar na questão.<br />
Ainda se faz necessária uma análise minuciosa sobre o conteúdo postado na internet para se chegar<br />
a mínimas conclusões sobre “gêneros digitais”.<br />
14<br />
O termo “conteúdo”, para as teorias da Comunicação, e neste trabalho, abrange um amplo<br />
rol de significados. Aqui, quando falo em “conteúdo”, refiro-me a tudo que envolve determinado<br />
objeto no campo do conhecimento, da informação, da ciência, da cultura e do entretenimento, um<br />
“material” virtual quantitativo.<br />
15<br />
Conforme Barthes, em Crítica e verdade, foi após a Revolução Francesa que, através principalmente<br />
do discurso político, o escritor deixou de ser o único a falar (BARTHES, Roland. Crítica e<br />
verdade. São Paulo: Perspectiva, 2003).<br />
16<br />
Barthes, em Crítica e Verdade, amplia o sentido dado por Jakobson, referindo-se à constituição<br />
ambígua do literário. O texto nem ratifica nem retifica o sentido, ele é inerentemente plural (BAR-<br />
THES, Roland. Crítica e verdade. São Paulo: Perspectiva, 2003).