HIPERLEITURA
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Hiperleitura e escrileitura<br />
por exemplo, da série Vampire Diaries, em que dois vampiros irmãos são<br />
antagonistas, um é do bem e o outro é do mal. Embora o livro de L. J. Smith<br />
seja de 1991, e não tenha feito muito sucesso, acabou convertendo-se em<br />
programa para a televisão em 2009, na febre do sobrenatural, e tem um<br />
público cativo, principalmente de adolescentes. No ano anterior, os livros<br />
de Charlaine Harris, a série Southern Vampires, publicados a partir de 2001,<br />
também foram transpostos para a televisão, com o título de True Blood, cujo<br />
enredo igualmente gira em torno da convivência entre seres sobrenaturais<br />
e os humanos. A série juvenil de Rick Riordan, Percy Jackson e os olimpianos,<br />
começou a ser publicada em 2005 e logo virou filme, para o contentamento<br />
de seus milhares de leitores, fãs do semideus Percy, filho do deus mitológico<br />
Perseu com uma humana. Os poderes de Percy incluem respirar embaixo<br />
d’água, caminhar sobre o oceano e conversar telepaticamente com os animais<br />
marinhos. Sem deixar de mencionar a série Crepúsculo, outras obras<br />
e ainda diversas séries para televisão apresentam vampiros, monstros e<br />
seres híbridos – ainda mais sedutores que o Conde Drácula ou Wolverine –,<br />
sem a distinção entre bem e mal, que se recusam a dominar a humanidade,<br />
preferindo enturmar-se e conquistar amigos e, principalmente, a mocinha.<br />
Os bruxos, em Harry Potter, parecem não ter abandonado o caldeirão e<br />
as receitas com morcegos para conquistarem uma posição no outro lado –<br />
muitos, inclusive, são feios, sujos, sombrios, e assustam seus semelhantes.<br />
Aqui, o leitor posiciona-se em um dos mundos que exercem oposição entre<br />
si, ao lado do protagonista – o mundo bruxo. Certamente que se trata de um<br />
plano ficcional, mas que nasceu das concepções sociais do mundo ocidental<br />
em que a bruxaria opõe-se à religião e, portanto, a Deus – a representação-mor<br />
do bem. O repertório do leitor que diz respeito à luta entre bem e<br />
mal – príncipes e princesas versus bruxos – é anulado, o que caracteriza a<br />
formação de um lugar vazio condicionado pela negação, como explica Iser:<br />
A posição do leitor certamente será afetada por esse processo.<br />
Perceber as normas do nosso próprio mundo social enquanto tais<br />
abre a possibilidade de adquirir consciência daquilo em que estamos<br />
envolvidos. A consciência será maior quando a validade das<br />
normas selecionadas for negada no repertório do texto. Pois o que