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HIPERLEITURA

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4 A CRÍTICA: UM OBJETO HÍBRIDO<br />

Esse objeto hipotético é o nosso: uma crítica que, dando-se a ler<br />

como texto, desse também a ler outro texto, de modo mais novo e<br />

mais rico do que aquele como o líamos antes; que fosse só linguagem,<br />

conservando uma função de metalinguagem; que inventasse,<br />

no outro texto, novos valores; que fosse ao mesmo tempo transitiva<br />

e intransitiva, segundo a leitura que dela se fizesse; que fosse um<br />

fenômeno de enunciação ao mesmo tempo em que enunciasse<br />

outra coisa; que entrasse numa relação simbólica (de linguagem) e<br />

não mais imaginária (de ideologia) com outro(s) texto(s). Tal seria<br />

nosso objeto: híbrido, paradoxal, inclassificável, como o sujeito<br />

que o produziria: sujeito a cavalo entre dois campos, entre dois<br />

mundos, sujeito em crise. Crítico = escritor em crise.<br />

Leyla Perrone-Moisés<br />

4.1 Da interpretação à escrileitura<br />

Em 1975, Leyla Perrone-Moisés, em sua tese de livre-docência 1 , trazia à<br />

tona uma pergunta então muito pertinente: em que medida a Crítica pode<br />

ser exercida através da escritura? Entre os efervescentes debates das décadas<br />

de 60 e 70, a autora discutia a possibilidade de uma escritura crítica em que<br />

se fundissem as características do discurso crítico tradicional com o discurso<br />

poético. Afirmada pela própria condição da literatura moderna, que incluía<br />

a reflexão sobre si mesma (linguagem e metalinguagem), essa nova Crítica<br />

refletia a transformação por que passava a arte – de representação fiel de<br />

uma ideia à produção de diferença – o que mais tarde foi diagnosticado como<br />

a passagem da “representação” para a “simulação”. I Se a literatura deixa de<br />

copiar para simular, como explica Perrone-Moisés, rompe-se a hierarquia<br />

entre ela e a Crítica: tudo é simulacro. Surge, então, aquele objeto híbrido<br />

de que fala a citação que introduz este capítulo e que, mais tarde, é incluído<br />

nas teorizações do Pós-Estruturalismo: a crítica-escritura.<br />

1<br />

Defendida na Universidade de São Paulo.

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