Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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Vianinha, refletindo sobre a dificuldade de exercer a profissão, disse: “A profissão de<br />
autor teatral não existe. O próprio teatro brasileiro é marginal. Ora, dentro do teatro, o autor é<br />
ainda mais marginal. É o marginal do marginalismo” 100 .<br />
Guarnieri ilustrou bem a impossibilidade de se viver de teatro, quando escreveu Um<br />
Grito Parado no Ar, texto que conta a história de um grupo que, enquanto ensaia uma peça, vê<br />
os seus instrumentos de trabalho sendo confiscados.<br />
Refletindo sobre o mesmo assunto, disse <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>: “O teatro de autor brasileiro não<br />
existia, e essa peça (Um Edifício...) recuperou o teatro declamado. No outro dia estava tudo<br />
quanto é dramaturgo tirando texto da gaveta” 101 .<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> tinha certeza de que havia alguma possibilidade de contornar-se o policia-<br />
mento estético, ideológico e econômico que a ditadura exercia sobre o teatro. Vianinha, tentan-<br />
do equacionar o mesmo problema, teria dito: “Ainda que eu passe anos buscando o que pode<br />
ser dito, escrito, não pretendo parar. É uma decisão, um compromisso que assumi responsavel-<br />
mente. Ainda é possível falar de alguns problemas contemporâneos /.../ Ainda existem possibi-<br />
lidades de se batalhar contra a opressão e contra a injustiça. Agora, é claro que fica cada vez<br />
mais difícil. Pode ser que um dia não seja mais possível e aí eu não sei que posição vou tomar.<br />
Mas escrever para a gaveta ou outro lugar qualquer, isso eu sei que não farei” 102 .<br />
Para conseguir encontrar a solução para o problema, Vianinha buscava os temas mais<br />
próximos ao gosto popular. <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> também. Daí porque preferia os temas ligados à vida<br />
de todo dia, ou, como preferia dizer, à multidão: “A temática tem que ser extraída da vida <strong>das</strong><br />
pessoas - e ela desapareceu do teatro brasileiro. De tal forma que, de repente, quando você se<br />
propunha a tratar um tema da multidão, isso já parecia vulgar. Ora, um tema não é vulgar só por<br />
interessar à maioria. Pode tornar-se vulgar se servir para mistificação desses problemas” 103 .<br />
Pensando assim, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> escolheu a comédia de costumes como o estilo que mar-<br />
caria Um Edifício Chamado 200. Tinha certeza de que a sua pesquisa de linguagem para equa-<br />
100 VIANNA FILHO, Oduvaldo. “Defesa da Cultura Brasileira”. Publicação sob o patrocínio da Empresa Bonfiglioli,<br />
julho de 1983, p. 20. Plínio Marcos, por volta do ano de 73, passara a dizer, dentro do mesmo espírito de protesto,<br />
que era um “autor morto”.<br />
101 PONTES, <strong>Paulo</strong>. Defesa da Cultura Brasileira. Op. cit. p. 22.<br />
102 Apud Carmelinda Guimarães. Op. cit. p. 64.<br />
103 PONTES, <strong>Paulo</strong>. Idem, ibidem.