Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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2. Um Edifício Chamado 200<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> contou como erigiu o texto: “Quando Milton me procurou eu estava doen-<br />
te, em véspera de ser operado e só aceitei fazer uma peça para ele por causa da sua insistência.<br />
Ele tinha até bolado uma personagem e eu comecei a escrever, sobretudo porque acreditava<br />
nele como ator” 93 .<br />
Acreditava em Milton como ator, mas via também na sua proposta a possibilidade de<br />
pôr em prática, finalmente, as suas idéias a respeito de teatro: “Hoje, no Brasil, nós, artistas, so-<br />
mos seres maravilhosos, com uma compreensão e uma visão do mundo cheias de belezas, dis-<br />
tantes, muito distantes, de um público engravatado, fedorento, careta e burro. Por isso é que eu<br />
acho que a comédia de costumes, por ser próxima deste público, conseguindo fazer da experi-<br />
ência do artista e do público um discurso claro, passou a ser vanguarda neste momento” 94 .<br />
O ponto de partida para a criação de Um Edifício Chamado 200 era o mesmo do seu<br />
programa de rádio, o mesmo do Paraí-bê-a-bá , o mesmo de Bibi - Série Especial, enfim, o<br />
mesmo de sempre: a busca exaustiva de uma linguagem clara, direta, mas sem abrir mão da<br />
qualidade, em primeiro lugar e, em segundo, sem esquecer a reflexão como ponto de apoio à<br />
percepção da vida, do cotidiano. O seu, era o teatro <strong>das</strong> coisas sabi<strong>das</strong>, e não tinha outra preten-<br />
são. Mas as coisas sabi<strong>das</strong> como ponto de luz na consciência, e como tal, instrumento crítico<br />
para um corte dialético na apreensão da realidade: “parece que vivemos em uma sociedade, ou<br />
em um país, em que as coisas sabi<strong>das</strong> já foram leva<strong>das</strong> à prática, e já são domina<strong>das</strong> porque<br />
partimos então para sondar o desconhecido. Eu acho que a posição política do homem de teatro,<br />
de arte, de cultura é, ao contrário, esfregar as coisas sabi<strong>das</strong> na cara do mundo para que a socie-<br />
dade as conquiste na prática. E a gente tem uma porção de coisas sabi<strong>das</strong> mas não postas em<br />
prática para revelar, para fazer disso o conteúdo permanente do nosso produto cultural. Assim,<br />
nós conseguimos fazer com que a nossa arte tenha uma identificação preliminar, que passa a ser<br />
a experiência comum do artista e do povo. Mas, por incrível que pareça, não é isto que tem a-<br />
contecido” 95 .<br />
93 <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, apud Helena Christina, “A Comédia Redescoberta”, in Jornal do Brasil, 19 de setembro de 1972.<br />
94 <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, apud Helena Christina. Op. cit.<br />
95 <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, Idem, ibidem.