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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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Na abertura da peça, a câmera abre sobre o interior de um pequeno hotel de uma peque-<br />

na cidade. É um bar, com mesas e balcão velho. Há pessoas no lugar. Entra um homem corren-<br />

do, fala com o dono do estabelecimento, e este se assusta. O homem fala com outras pessoas<br />

que estão no local. Todos se assustam. Esse homem, que entra correndo no bar, ser a persona-<br />

gem encarregada de juntar os vários pontos do texto, diversas personagens a quem ele, correndo<br />

como sempre, noticia o que está acontecendo na cidade. A câmera mostra a entrada do Justicei-<br />

ro no bar, acompanhado por uma mulher vestida de preto e um menino, filho da mulher. Ao<br />

entrar no bar, clima de Western: todos param, imóveis. A mulher de preto dirige-se ao balcão,<br />

preenche ficha de entrada no hotel. Sai. O Justiceiro senta e pede, não um uisque, mas um café.<br />

Enquanto se desenvolve essa sequência muda, uma voz faz a narração da cena, pondo o teles-<br />

pectador diante do clima de medo vivido pelas personagens no bar, e, consequentemente, diante<br />

do clima da peça, já devidamente ambientada.<br />

“VOZ - Antigamente, no sertão, no imenso interior brasileiro, muito mais do que hoje - existia<br />

o matador profissional. A inexistência de juízes suficientes nos grandes confins do país fazia<br />

com que as questões de honra, de terra, de vingança, fossem resolvi<strong>das</strong> com a contratação de<br />

um matador. Entre eles houve um que matava por dinheiro, mas só aceitava o trabalho se o mo-<br />

tivo fosse justo. Criou fama também porque nunca pode ser preso, pois sempre matava em legí-<br />

tima defesa, provocando os adversários, esgotando seus nervos, até fazê-los tomar a iniciativa<br />

de dar o primeiro tiro. Cada vez que ele chegava numa cidade, to<strong>das</strong> as pessoas com a consci-<br />

ência culpada, sentiam-se ameaça<strong>das</strong>. Esta é uma <strong>das</strong> suas inúmeras estórias. Seu nome: Estre-<br />

la. Seu apelido entre o povo: O Justiceiro.”<br />

Numa sequência de cortes rápidos, depois da introdução do problema feita por essa voz<br />

épica, o homem que anunciou a chegada do Justiceiro à cidade, continua o seu ofício da contar<br />

a m novidade. Avisa ao dono do banco que, naturalmente, se assusta e se pergunta o que ser<br />

feito dele, Banqueiro. Depois, ao Coronel, que se põe a perguntar se foi atrás dele, Coronel, que<br />

o Justiceiro veio. Mas o tom mais tenso e patético é o de um homem (identificado como Nervo-<br />

so) que considera que o Justiceiro veio procurá-lo, a mando do ex-marido de sua mulher. De<br />

arma em punho, o homem relata a sua desconfiança à mulher, que lhe diz que o seu marido,<br />

sovina como é, não gastaria uma bala num pobre coitado como o Nervoso. Ele fica ainda mais<br />

nervoso, quando na contra-regra ouvem-se passos e uma voz que anuncia, simplesmente, que o<br />

jantar está pronto.

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