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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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uas de Paris, arma<strong>das</strong> por uma multidão de jovens estudantes que exigiam a devolução ao ci-<br />

dadão de um bem que não se sabe com certeza se algum dia existiu: liberdade.<br />

Toda a inquietação do mundo; todo o repúdio contra o poder que erige a morte como<br />

culto num tempo pulsante de vida; to<strong>das</strong> as injustiças sociais postas a nu por uma horda de jo-<br />

vens que, quase num átimo, perceberam que era a sua força e a sua juventude que o Estado exi-<br />

gia para poder perpetuar a morte; a contradição interna dos regimes Capitalistas e Comunistas<br />

que não conseguiam fazer da felicidade (uma idéia utópica) um valor social possível de ser<br />

conquistado com o trabalho e com a justiça; as idéias de pensadores como Marcuse, Marx,<br />

Freud, Sartre, além de Reich; os exemplos de líderes como Mao Tsé Tung e Che Guevara, mor-<br />

to na Bolívia; as ditaduras. To<strong>das</strong> essas coisas somavam-se no espírito dos jovens naquele ano<br />

de 1968, criando ao mesmo tempo a resposta impulsiva da revolta e as teorias que se traduziam<br />

em palavras de ordem: é proibido proibir: frase inscrita nos muros de Paris.<br />

No Brasil (desde abril de 1964), a repressão ia estabelecendo um espaço de liberdade<br />

cada vez menor. As inquietações dos estudantes marchavam para as ruas, e nas ruas se trans-<br />

formavam em pedras e coquetéis molotovs sobre a polícia.<br />

O General Castelo Branco esperava que após noventa dias do direito governamental de<br />

cassar mandatos e suspender políticos, depois da vitória de abril, viesse uma pacificação relati-<br />

va. Mas o que aconteceu foi diferente, e vieram as medi<strong>das</strong> restritivas: Ato Institucional nº 2, a<br />

extinção dos partidos políticos, recesso no Congresso, eleições indiretas para Presidente, Vice-<br />

Presidente e Governadores de Estados, a Lei de Segurança Nacional, a Lei de Imprensa, a com-<br />

pressão salarial, a proibição de greves, a intervenção nos sindicatos etc. Todo um elenco de<br />

medi<strong>das</strong> que caracterizava a ditadura que, por fim, se institucionalizaria em 13 de dezembro de<br />

1968, com o Ato Institucional de número 5 e Ato Complementar de número 38. Por eles, o<br />

Congresso Nacional fora posto em recesso por tempo indeterminado e ficava assegurado ao<br />

Presidente a possibilidade de sanções políticas, independente de qualquer controle judiciário. E<br />

o que motivou o governo militar a tomar essas medi<strong>das</strong>? Aparentemente o discurso do deputado<br />

carioca Márcio Moreira Alves, no qual protestava contra a invasão da Universidade de Brasília,<br />

por tropas do Exército e da Polícia, na manhã do dia 29 de agosto. Dizia o deputado: “Quando<br />

pararão as tropas de metralhar nas ruas o povo? Quando uma bota, arrebentando uma porta de<br />

laboratório, deixar de ser a proposta de reforma universitária do Governo? Quando teremos,<br />

como pais, ao ver nossos filhos saírem para a escola, à certeza de que eles não voltarão carrega-<br />

dos em uma padiola, esbordoados ou metralhados? Quando poderemos ter confiança naqueles<br />

que devem executar e cumprir as leis? Quando não será a polícia um bando de facínoras?<br />

Quando não será o Exército um valhacouto de torturadores? Quando se dará o Governo Federal

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