14.04.2013 Views

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mentos de expressão <strong>das</strong> necessidades <strong>das</strong> classes subalternas” (p. xiv). Havia, então, entre o<br />

povo e a intelectualidade pequeno-burguesa, um canal de expressão, de comunicação.<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> acreditava que o movimento de ascensão <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> médias, somado ao<br />

processo altamente seletivo que o capitalismo impõe, provocou o afastamento da comunicação<br />

que havia entre intelectuais e povo: “As classes dominantes produziram o corte que seccionou a<br />

base dos segmentos superiores da hierarquia social. Isola<strong>das</strong>, às classes subalternas restou a<br />

marginalidade abafada, contida, sem saída. Individualmente, ou em grupo, um homem capaz,<br />

ou uma elite <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> inferiores pode ascender e entrar na ciranda. Como classe, estão re-<br />

duzi<strong>das</strong> à indigência política” (p. xiv).<br />

Gota D'água, segundo <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, é “uma reflexão sobre esse movimento que se ope-<br />

rou no interior da sociedade, encurralando as classes subalternas. É uma reflexão insuficiente,<br />

simplificadora, ainda perplexa, não tão substantiva quanto necessário, pois o quadro é muito<br />

complexo e só agora emerge <strong>das</strong> sombras do processo social para se constituir no traço domi-<br />

nante do perfil da vida brasileira atual” (p. xv).<br />

6.6.2 - O povo como identidade nacional<br />

“A partir da década de 50 - disse <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> - um contingente cada vez maior da inte-<br />

lectualidade foi percebendo que a classe média de um país como o nosso - colonizado, desviado<br />

do controle sobre seu próprio destino - vive dilacerada, sem identidade, não se reconhece no<br />

que produz, no que faz e no que diz. Ela só tem uma chance de sair da perplexidade quando se<br />

descobre ligada à vida concreta do povo, quando faz <strong>das</strong> aspirações do povo um projeto que dê<br />

sentido à sua vida. Isso porque o povo, mesmo expropriado de seus instrumentos de afirmação,<br />

ocupa o centro da realidade - tem aspirações, passado, tem história, tem experiência, concretu-<br />

de, tem sentido. É, por conseguinte, a única fonte de identidade nacional” (p. xvi).<br />

A interrupção do diálogo entre o povo e intelectualidade foi provocada a partir de 1964,<br />

por duas forças convergentes: o autoritarismo e a modernização do processo produtivo, que<br />

passou então a dar um caráter imediato, industrial, à produção de cultura. “Agora que a experi-<br />

ência de todos esses anos já nos permite uma avaliação, fica cada vez mais claro que nós temos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!