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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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mo ator na peça de Hermilo Borba Filho, confirmando o que Jório Machado dissera no tópico<br />

anterior:<br />

"LOCUTOR - /.../ Cheio de gram tica - talvez o único sintoma do bom car ter da minha perso-<br />

nalidade - tentei o teatro. A minha estréia no palco foi na peça Apenas uma cadeira vazia, de<br />

Hermilo Borba Filho. Eu fazia uma ponta, anunciando a morte de duas velhinhas que moravam<br />

ao lado. Era esta a minha fala. Entrava no palco e largava:<br />

VOZ - As duas velhinha do lado acabam de morrer. Foram encontra<strong>das</strong>, as duas, mortas, na<br />

cadeira.<br />

LOCUTOR - No dia da encenação, entrei no palco. Teatro cheio. Larguei:<br />

VOZ - As duas cadeirinhas do lado acabaram de morrer. Foram encontra<strong>das</strong>, coitadinhas, tão<br />

bonitinhas, as duas senta<strong>das</strong> em cima <strong>das</strong> velhinhas.<br />

TÉCNICA - TRANSIÇÃO.<br />

LOCUTOR - Não precisa ser pitonisa para perceber que estava encerrada a minha carreira de<br />

ator".<br />

A partir daí, o texto segue contando a sua "autobiografia", quando, para finalizar, <strong>Paulo</strong><br />

<strong>Pontes</strong> conta duas historinhas, muito conheci<strong>das</strong> do imaginário popular e que acabam como<br />

sempre, nas fábulas populares, deixando para o público a título de reflexão ou exemplo, a sua<br />

moral: a primeira é a história da formiguinha que carrega uma folha de abacate pela estrada,<br />

versus um burro que carrega uma carga d'água no lombo. Na discussão sobre o trabalho reali-<br />

zado pelo burro e pela formiga, sobra a constatação de que o trabalho da formiga é para si, para<br />

sua alimentação. Moral da história: o que cansa não é o peso, é a burrice. A outra história é a de<br />

um homem desempregado que busca trabalho no circo. Incapaz de fazer qualquer coisa, o ho-<br />

mem não é aceito. No dia seguinte, adoece o leão, e o dono do circo corre em busca do homem<br />

desempregado. Veste-lhe uma roupa de leão, prende-o na jaula, e quando o desempregado fan-<br />

tasiado de leão vê à sua frente o outro leão, fica desesperado e põe-se a gritar. Ao que o outro<br />

leão lhe diz, baixinho, para ele calar a boca, senão os dois perderiam o emprego. Ao que reza a<br />

moral da história: com fome todo homem vira fera.<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, então, encerra o seu texto:<br />

"LOCUTOR - Aos ouvintes deste programa que, porventura sejam dotados de bom nível inte-<br />

lectual, eu peço desculpas por não ter radiofonizado uma tragédia de Shakespeare. Como sou

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