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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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CAPATAZ - ESCOLHENDO; Você, você, você. EXAMINA OS DENTES, MEDE O TA-<br />

MANHO. Você, não... você... levanta o rosto. ENTRA DE REPENTE DOGOBERTO.<br />

DAGOBERTO - O que é isto, Manuel Broca? Quem mandou ocupar retirante? O que eu disse<br />

está dito. VAI SE RETIRANDO. Mande esse pessoal embora.<br />

SOLEDADE - A UM CANTO, TÍMIDA. Se o senhor pudesse me arranjar um copo d'água... eu<br />

estou morrendo de sede...<br />

DAGOBERTO - PÁRA, VOLTA-SE, FITA A MOÇA. UM TEMPO. EXAMINA-A. Broca,<br />

manda dar água a essa gente. A SOLEDADE. Estes dois homens que estão com você são seus<br />

irmãos? SOLEDADE BAIXA A CABEÇA. O PAI RESPONDE ENVERGONHADO.<br />

PAI - Não senhor. Mas são como se fosse.<br />

DAGOBERTO - VOLTA-SE. FITA A MOÇA. UM TEMPO. VAI EM SUA DIREÇÃO.<br />

Quem é esse homem?<br />

SOLEDADE - Meu pai.<br />

DAGOBERTO - Bom, depois da água não quero ver mais ninguém aqui. AO SAIR CHAMA O<br />

FEITOR. Broca, arranche a moça com os dois” (p. 9 e ss.).<br />

A cena continua, mas para não a tornar muito extensa, vamos cortá-la para o trecho em<br />

que Dagoberto expulsa um morador de nome Xenane de suas terras, para abrigar a família de<br />

Soledade, que acabara de chegar ao engenho:<br />

“XENANE - Patrão, eu não me sujeito. O patrão sabe que eu não enjeito parada, sou burro de<br />

carga. Mas nascer pra estrebaria eu não nasci.<br />

DAGOBERTO - Pois por ali, cabra safado. Você não nasceu para estrebaria, que é de cavalo de<br />

sela, você nasceu pra cangalha.<br />

XENANE - A gente bota um quinquingu, quando é agora o patrão sem mais nem menos... Pa-<br />

trão, e a minha roça atrás do rancho, e a rebolada de cana?<br />

DAGOBERTO - O que está na terra é da terra. Vá embora.<br />

PAUSA.<br />

XENANE - Patrão, mande as ordens. Dá licença que eu leve os troços”.<br />

Ao final da cena volta à personagem Ator e a conclui com a sentença de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>:<br />

“ATOR - Esta cena se reproduz nos círculos mortais <strong>das</strong> secas: o retirante faz o marginal do<br />

brejo e este se transforma, por sua vez, em marginal <strong>das</strong> cidades”.

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