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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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Em Um Homem Chamado 320, o mistério permanece na figura do louco que chega e sai<br />

sem se revelar, mas deixando dados impossíveis de resolver, tais como: quem é Sandra (alguém<br />

de importância em sua ação anterior ou simplesmente um nome de referência para configurar a<br />

sua confusão mental)? Quem é ele, o louco? A expectativa gira em torno da violência que se<br />

insinua, mas não acontece.<br />

Em A Testemunha, o clima é dado inicialmente pelo marido de Célia, quando confessa o<br />

seu temor de deixá-la só, sabendo que ela é a única testemunha do crime ocorrido em frente ao<br />

seu apartamento. Depois, a entrada do mandante do crime, <strong>Paulo</strong> Mãozinha, disfarçado de poli-<br />

cial, gera o mistério que só se desfaz quando ela puxa a capa que esconde o braço manietado do<br />

bandido.<br />

Em A Vida Por Um Fio, o mistério é a própria trama da obra. Ana Maura, paralítica,<br />

tentando evitar um crime que depois descobre ser contra ela.<br />

Em Uma Noite de Terror não há propriamente mistério, porém, o fato da ação desenro-<br />

lar-se à noite, numa rua deserta, numa casa invadida por dois bandidos, já cria um clima algo<br />

semelhante.<br />

De modo direto, o mistério só é parte intrínseca da ação em A Vida Por Um Fio. Em A<br />

Testemunha, ele faz parte da ação até o momento em que Célia descobre a identidade do pseu-<br />

do-policial. Com exceção de Um Homem Chamado 320, cujo anonimato deixa algo a desejar da<br />

personagem, além do fato de sabê-lo louco, e de A Ferro e Fogo, os demais textos têm como<br />

suporte de mistérios elementos extrínsecos ao texto, não necessariamente ligados ao seu tema.<br />

Eis os elementos:<br />

O silêncio da noite: A Testemunha, A Vida Por Um Fio e Uma Noite de Terror.<br />

A vida solitária, ou a solidão de um apartamento: A Testemunha, A Vida Por Um Fio, e<br />

até mesmo Uma Noite de Terror, embora Edite, a princípio, não estivesse só, mas trabalhando<br />

com o seu patrão, o clima indicado é o da mais completa solidão.<br />

A solidão é tema de outro texto: Por Favor, Moça, Não Morra. Não há propriamente<br />

mistério, mas um quebra-cabeça para desvendar-se, à feição de uma novela policial, em que os<br />

dados do quebra-cabeça conduzem à novela policial: a solução visa evitar a morte por suicídio.<br />

O mistério compõe um forte elemento para prender a atenção do telespectador (ou do leitor),<br />

nesses textos. De alguma forma, está presente na maioria deles.<br />

Pensando a linguagem da televisão e os padrões da cultura de massa, T. W. Adorno<br />

chega ao ponto em que o mistério torna-se um álibi da linguagem televisiva: “Todo espectador<br />

de programa de mistério da televisão sabe exatamente, com absoluta certeza, como é que ele vai<br />

acabar. A tensão se mantém apenas superficialmente e já não é provável que exerça um efeito

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