Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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“MEDEIA - /.../ Mandar-lhe-ei os presentes mais belos que houver atualmente no mundo: um<br />
pequeno véu fino e um diadema de ouro cinzelado. Os pequenos leva-los-ão. /.../<br />
JASÃO - Por que é, insensata, que te despojas assim? Crês que no paço real há falta de véus e<br />
de ouro? Guarda-os, não lhos dês. Se minha mulher faz algum caso de mim, há-de preferir-me<br />
às riquezas, disso estou bem convencido.<br />
MEDEIA - Não fales dessa forma! Os presentes, diz-se, fazem até os deuses dobrarem-se, e o<br />
ouro é mais poderoso que to<strong>das</strong> as palavras dos mortais” (p. 55 e ss).<br />
Em <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e Chico Buarque:<br />
“JOANA - Pode deixar que eu sei/ o que eu estou fazendo, Jasão. Eu/ visto os meninos direito,<br />
preparo/ uma lembrancinha, Jasão. Agora, se as crianças lhe fazem vergonha...<br />
JASÇO - Ora,/ Joana, que é isso? Eu posso dar amparo/ aos dois... Creonte ajuda. Vou falar/<br />
com alma também, tudo bem, mas não/ precisa mandar eles lá...<br />
JOANA - Jasão,/ é importante pra mim. Eu vou mandar/ as crianças sim, porque meu destino/<br />
depende disso” (p. 158).<br />
L) Medeia convence Jasão. A tragédia se aproxima.<br />
Em Vianinha, a morte por envenenamento é descrita pela câmera, basicamente. Ela<br />
mostra a festa de casamento, o povo na quadra, a bateria da escola de samba tocando. Jasão<br />
com os filhos, a noiva. Passa um cachorro. A menina dá um doce para ele. Jasão vê. Depois ele<br />
entrega os dois filhos para Dolores levá-los de volta para casa. Creusa, a noiva, come os doces<br />
que Medeia lhe mandou. Jasão vê o cachorro morrendo. Compreende tudo. Grita e mal conse-<br />
gue se fazer ouvir. É tarde. Creusa morre. Creonte fica inválido, como consequência do podero-<br />
so veneno com o qual Medeia preparou os seus doces.<br />
Em Eurípides, a tragédia é relatada a Medeia pelo Mensageiro. A descrição que ele faz<br />
da morte de Creonte e sua filha é terrível. Primeiro ele conta a repulsa aos filhos de Medeia pela<br />
noiva de Jasão. Depois, o encanto da noiva ao receber os presentes, a sua felicidade ao experi-<br />
mentá-los, para logo depois cair em agonia:<br />
“MENSAGEIRO - Logo, porém se produz um espetáculo medonho: muda de cor, dobra-se em<br />
duas, recua; os membros tremem; mal tem tempo de se deixar cair no trono para não se estatelar<br />
no chão /.../ (uma criada) Imediatamente lhe observa uma espuma branca que lhe acode à boca,<br />
lhe vê revirarem-se as pupilas e o sangue abandonar o corpo /.../ Um duplo flagelo a torturava: a