Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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3.2 - O Texto 122<br />
Abertura da peça. Zambor está descontraído, tirando a calça, cantando. Há barulho fora<br />
do quarto. Zambor fecha a porta. Entra Vilma, a enfermeira:<br />
“VILMA - Quem fechou a porta?<br />
ZAMBOR - (PROTEGENDO A NUDEZ) - Opa... O que é isso?...<br />
VILMA - Quem mandou o senhor fechar esta porta?<br />
ZAMBOR - Devia ter batido, minha santa... Dá uma viradinha.<br />
VILMA - pode vestir a calça. Foi o senhor quem fechou a porta?<br />
ZAMBOR - Faz muito barulho.<br />
VILMA - Mas não pode. Tem que ficar aberta...(ESCANCARANDO A PORTA) - Bem aber-<br />
ta... Pra todo mundo ver que está aberta.<br />
ZAMBOR - E por que é que tem de ficar aberta?”<br />
Esta é a primeira pergunta sem resposta que Zambor faz. O conflito entre ele e as nor-<br />
mas do hospital já se estabelece desde o início. A resposta da enfermeira: “Isso não interessa”,<br />
motiva um longo questionamento entre Zambor e Vilma. Até que apareça Sílvia, a Enfermeira-<br />
chefe que, cansada de discutir com Zambor, termina por permitir que ele deixe a porta fechada.<br />
Mas, se pode permanecer com a porta fechada, não pode usar na parede do quarto fotografia de<br />
casal nu. É que Zambor, tentando ambientar melhor o quarto onde ficaria hospedado, resolveu<br />
pôr na parede o retrato de um casal sem roupa. Sílvia, que também é freira, não admite que o<br />
retrato do casal esteja ao lado do retrato de Jesus crucificado. Zambor, do mesmo modo que<br />
antes fizera com a porta, questiona o que é mais saudável para o paciente: o Cristo crucificado<br />
ou a imagem de um casal saudável.<br />
Assim ele conduz toda a peça. Questiona, por exemplo, a proibição de fumar seus cigar-<br />
ros, a proibição de visita a partir <strong>das</strong> 22 horas, sempre em pontos espalhados no texto, de tal<br />
122 Texto em apostila. Arquivo do autor. Não daremos referência de página.