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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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para as produções ambiciosas. João <strong>das</strong> Neves revelou que em alguns momentos a folha de pa-<br />

gamentos chegava a ter quarenta nomes.<br />

No período entre sua criação em 64 e o racha sofrido em 67, o Opinião, como toda vida<br />

inteligente do país, enfrentava a ação da Censura Federal, que com a sua imprevisibilidade dita-<br />

torial gerava instabilidade no interior dos grupos teatrais, desorganizando as produções, desori-<br />

entando as buscas tem ticas, as pesquisas formais, uma vez que nada garantia a vida do espetá-<br />

culo, nem em sua fase de ensaio, nem durante as apresentações. O poder da Censura tirava um<br />

espetáculo de cartaz por qualquer motivo, ou por motivo nenhum.<br />

Apesar disso, esse curto período do golpe à sua institucionalização em 68, foi uma fase<br />

de grande inquietação para o teatro brasileiro, que teve no Arena, Oficina e Opinião, a expres-<br />

são mais vigorosa desse período. Esses três grupos foram responsáveis por espetáculos antoló-<br />

gicos, onde a criatividade, a força de vontade de realizar o seu trabalho e a recusa sistemática<br />

em concordar com um regime embrutecedor, somavam-se para um saldo estético qualitativo, a<br />

cada passo aprofundando a sua diferença com o regime que, em consequência, também fechava<br />

o cerco. O teatro, naquele momento que os partidos políticos dissolvidos reduziam-se a duas<br />

siglas cria<strong>das</strong> pela ditadura, em que alguns idealistas procuraram, na clandestinidade, lançar as<br />

bases de uma guerrilha que pudesse desestabilizar o regime, o teatro transformou-se num dos<br />

poucos canais que aglutinavam os insatisfeitos, sobretudo os estudantes.<br />

No espaço do teatro eram realizados debates, palestras, cursos ou simplesmente concen-<br />

trações políticas anima<strong>das</strong> por uma massa estudantil crescente cada vez mais. Luiz Carlos Ma-<br />

ciel relatou uma dessas reuniões, logo após a morte do estudante Edson Luís no restaurante Ca-<br />

labouço, em 1968: "Logo na primeira assembléia, realizada a partir de meia-noite do dia que o<br />

estudante Edson Luís foi morto, no Teatro Opinião, o pau quebrou. Os participantes dividiam-<br />

se, a grosso modo, em três grupos principais: o pessoal do Partidão, que era muito organizado;<br />

os chamados "representativos", artistas e intelectuais de renome, sem compromissos ideológi-<br />

cos, contrários aos métodos do governo; finalmente, os porra-loucas ou meninos de Marcuse,<br />

como os outros os chamavam, isto é, a esquerda jovem e independente que, disposta a levar a<br />

imaginação ao poder, ficava sempre tumultuando tudo, com suas idéias e propostas des-<br />

vaira<strong>das</strong>" 41 .<br />

Em outros teatros também se realizavam reuniões que eram embala<strong>das</strong> pelo mesmo ca-<br />

lor e revolta contra o regime. Luiz Carlos Maciel fala da vocação política da sua geração, que<br />

41 MACIEL, Luiz Carlos. Anos 60. Porto Alegre: L&PM, 1987, p. 83.

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