Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
fortuna sorriu um pouco e agora vai ganhar uma casa de Creonte, as influências de Creonte!<br />
Um fraco merece desprezo, mas um desamado merece castigo, sim!” (Segunda Parte).<br />
Eis as queixas de Medeia, de Eurípides:<br />
“MEDEIA - Mas ser pelo princípio que vou começar. Salvei-te, como sabem todos os gregos<br />
que embarcaram contigo no Argo. Tinham-te mandado submeter ao jugo os touros fogosos e<br />
semear os sulcos da morte. Ora o dragão que envolvia o Velo de Ouro nas suas mil roscas tor-<br />
tuosas e o guardava sem nunca adormecer, eu o matei e alcei para ti o facho da vitória. Eu<br />
mesma traí o meu pai e a minha casa e vim contigo à cidade do Pélio, em Iolco, mais apressada<br />
que prudente. Fiz sucumbir Pélias da morte mais cruel, pelas mãos <strong>das</strong> próprias filhas, e de-<br />
sembaracei-te de qualquer temor. Eis os serviços que te prestei, ao mais celerado de todos os<br />
homens. Depois atraiçoaste-me, tomaste posso de novo leito, tu que geraras filhos! Se não fora<br />
isso, ainda terias desculpa de cobiçar novo tálamo. Mas que é feito dos teus juramentos? Sabe-<br />
rei algum dia qual o teu pensamento?” (p. 32).<br />
Eis, em <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e Chico Buarque, o lamento de Joana:<br />
“JOANA - Pois bem, você/ vai escutar as contas que eu vou lhe fazer:/ te conheci moleque,<br />
frouxo, perna bamba,/ barba rala, calça larga, bolso sem fundo/ Não sabia nada de mulher nem<br />
de samba/ e tinha um puto dum medo de olhar pro mundo/ As marcas do homem, uma a uma,<br />
Jasão,/ tu tirou to<strong>das</strong> de mim. O primeiro prato,/ o primeiro aplauso, a primeira inspiração,/ a<br />
primeira gravata, o primeiro sapato/ de duas cores, lembra?/ O primeiro cigarro, a primeira be-<br />
bedeira, o primeiro filho,/ o primeiro violão, o primeiro sarro,/.../ Fabriquei energia que não era<br />
tua/ pra iluminar uma estrada que eu te apontei/ E foi assim, enfim, que eu vi nascer do nada/<br />
uma alma ansiosa, faminta, buliçosa,/ uma alma de homem. /.../ Assim que bateu o primeiro pé-<br />
de-vento,/ assim que despontou um segundo horizonte,/ lá se foi meu homem-orgulho, minha<br />
obra/ completa, lá se foi pro acervo de Creonte...” (p. 76).<br />
Joana de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e Chico Buarque, a exemplo <strong>das</strong> outras Medeias, fez grandes sa-<br />
crifícios para viver o seu amor. No caso de Joana, entre outras coisas, largou o velho marido<br />
que lhe dava todos os confortos, inclusive um Simca Chambord.