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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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e a lei, aberto desde o Prometeu de Ésquilo e a Antígona de Sófocles. A isso se acrescenta o<br />

tema do herói fundador - Rômulo moderno - que opera a passagem do caos à ordem. A riqueza<br />

mitológica em estado nascente do Western explica sua ressonância universal” 87 .<br />

Charles J. Rolo, no ensaio “A Metafísica do Assassínio para Milhões”, tratando de as-<br />

sunto semelhante ao de Edgar Morin, diz, num determinado momento, que, talvez, a mais pro-<br />

funda frustração do nosso tempo “seja exatamente a sensação de que o indivíduo encontra-se<br />

reduzido à impotência num mundo em que o princípio da organização em larga escala impreg-<br />

nou irremediavelmente os assuntos humanos, legítimos ou ilegítimos” 88 . No caso da cultura de<br />

massa, interessam muito os assuntos ilegítimos. E para resolvê-los, já que o homem comum<br />

para isto é impotente, somente o herói, o homem estranho, o justiceiro.<br />

Edgar Morin, ao concluir o capítulo que trata da violência no nosso tempo, o tempo da<br />

neurose, diz que a cultura de massa, embora nos entorpeça, nos embriague com barulhos e fú-<br />

rias, não nos cura de nossas fúrias fundamentais. E o que são essas fúrias? - Mistérios.<br />

2.2 - Mistérios<br />

Eis outro pólo em que assentam os textos ora analisados. Violência e mistério, tempera-<br />

dos de modo a criar expectativas.<br />

Em O Justiceiro, o mistério é a própria figura do Justiceiro, quase todo o tempo calado.<br />

O que se sabe sobre ele é dito pelas outras personagens. Cria-se uma certa curiosidade sobre<br />

como vai agir aquela personagem tão calada. E quando ela age é exatamente conforme o que se<br />

dizia. A curiosidade seguinte, então, é saber quem ele vai matar: o Banqueiro, a cômica perso-<br />

nagem de nome Nervoso, o Coronel. Nenhum deles. O homem marcado para morrer era o Juiz,<br />

que até então não constava da história.<br />

Em, Eneida, ameaçada por um revólver, é posta diante de uma charada. Rememora tudo<br />

o que pode em tão pouco A Ferro e Fogo tempo. Quando, por fim, esclarecida, deseja reabili-<br />

tar-se. Mas não percebe que a música que roubou já anunciava a sua humilhação.<br />

87 MORIN, Edgar. Op. cit., p. 112.<br />

88 Apud Bernard Rosemberg e David Manning White. A Cultura de Massa. São <strong>Paulo</strong>, Cultrix: 1973, p. 201.

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