Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
capitalista, descobriu uma maneira infernal de institucionalização do sonho: a Loteria Esporti-<br />
va” 109 .<br />
Esse é o par grafo básico do seu texto, onde ele expõe o quadro geral do qual parte o seu<br />
pensamento para equacioná-lo através de uma personagem padrão. Na segunda parte, ele con-<br />
centra em Alfredo Gamela a perspectiva geral do homem que aposta na Loteria: “Como mi-<br />
lhões de pessoas que têm de seu apenas a capacidade de trabalhar, Alfredo Gamela joga na Lo-<br />
teria Esportiva. Com uma diferença. Milhões trabalham e jogam. Gamela, apenas joga. E se ele<br />
ganhar? Todos os sonhos de Gamela serão realizados. E sua experiência de ganhador - ser en-<br />
trevistado na rádio, na TV, primeira página dos jornais - estimular ainda mais o sonho de mi-<br />
lhões de pessoas que, por enquanto, são donos, apenas, de seu próprio corpo, dotado da capaci-<br />
dade de trabalhar”.<br />
Por fim, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> não consegue esconder a sua simpatia de autor pela personagem,<br />
mesmo que não concorde com as posições assumi<strong>das</strong> por ela. Num jogo pirandelliano, <strong>Paulo</strong><br />
<strong>Pontes</strong> aceita que Alfredo Gamela seja um tipo independente de sua vontade: “Enquanto escre-<br />
via a peça, fui tomado de uma tal simpatia por Alfredo Gamela, que, apesar <strong>das</strong> falhas do seu<br />
caráter, torci muito pra ele ganhar na Loteria Esportiva. O público, com sua extraordinária ca-<br />
pacidade de ficar do lado certo, também vai torcer, espero”.<br />
3. Check-up<br />
Em 1972, depois do sucesso de Um Edifíco Chamado 200, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> escreveu<br />
Check-up, que estreou no mesmo ano, com a direção de Cécil Thiré, tendo Ziembinski como<br />
ator principal.<br />
Esse, aliás, é um texto escrito sob encomenda para Ziembinski: “Ele me deu até o núme-<br />
ro de personagens que a peça deveria ter, por causa de suas limita<strong>das</strong> possibilidades financei-<br />
ras” 110 .<br />
109 PONTES, <strong>Paulo</strong>. “Um Edifício Chamado 200”. In <strong>Arte</strong> em Revista/6. São <strong>Paulo</strong>, Kairós, p. 58. As demais cita-<br />
ções serão da mesma fonte.<br />
110 PONTES, <strong>Paulo</strong>. “Autor não pode viver só de teatro”. Rio de Janeiro, Última Hora, 17 de fevereiro de 1973.