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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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forma que cada questão surge após o esgotamento da anterior. A peça é curta exatamente para<br />

que Zambor não possa perder-se em sua argumentação, e para que, também, o seu constante<br />

questionamento não canse a platéia, pelo seu racionalismo, e por ser o único vetor da ação.<br />

As personagens dividem-se em dois grupos: o Médico e Sílvia, a Enfermeira-chefe, de<br />

um lado; de outro, Vilma, enfermeira, e um ajudante de enfermagem de nome Meu Filho. Zam-<br />

bor, postado entre os dois grupos, conquista, com a sua irreverência, o grupo composto por<br />

Vilma e Meu filho. Este chegando, inclusive, no fim da peça, a roubar, com a anuência de Vil-<br />

ma, um remédio que não constava em sua papeleta. Mas se Zambor consegue conquistar o gru-<br />

po mais frágil de personagens, não conquista, por sua vez, o grupo mais forte.<br />

Esse grupo de personagens frágeis seria, como já dito, a representação do povo. Eis o<br />

que Vilma diz para Zambor, no momento que eles se reencontram, após o incidente da porta<br />

fechada:<br />

“VILMA - A gente tem que cumprir ordens. A Enfermeira-chefe diz: doente, a gente dá o pé e<br />

ele quer a mão... O hospital não pode... Se for dando regalias daqui a pouco todo mundo quer<br />

tudo...”<br />

ZAMBOR - Ahnnn. Quer dizer que você está com raiva de mim?<br />

VILMA - Agora... O senhor vê: eles dão ordens... a gente cumpre. De repente não é mais. Irmã<br />

Sílvia veio falar com o senhor, terminou deixando a porta fechada. Eu não sabia que o senhor<br />

era importante. Pra mim... era tudo igual... (TIRA O TERMÔMETRO) - No fim quem paga é o<br />

pequeno.”<br />

3.3 - Uso renovado de truque antigo<br />

Volta à cena a velha piada do Paraí-bê-a-bá, a do homem que se recusa a comer. Eis o<br />

diálogo entre o Médico e Zambor:<br />

“MÉDICO - Se alimenta bem?<br />

ZAMBOR - Eu detesto comida.<br />

MÉDICO - Não gosta de comer?<br />

ZAMBOR - Por que o espanto?

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