Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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“MILENA - Diz logo o que você quer e vai embora!<br />
RÚBIS - Digo o que quero e quando quero...<br />
MILENA - Me solta...<br />
RÚBIS - Me solta devia dizer eu. Você nunca me largou! Todo dia no jornal, provocando, rin-<br />
do, não é? Vim aqui acabar com você, mulher, sou um ladrão, sou assassino, mato! Sou de ma-<br />
tar gente!”<br />
Para, em seguida, completar:<br />
“RÚBIS - Chama a polícia, chama bombeiro, chama assistência... Não me importa... Minha<br />
mulher foi embora... Me largou... Deixou nosso barraco no morro do Quinto... Não importa<br />
mais nada...”<br />
Depois ele exige que ela lhe entregue o anel caríssimo. De posse do anel, ele desenvolve<br />
a exposição do seu gesto:<br />
“RÚBIS - Cinquenta milhões... Foi por causa dele que a minha nega Carmosa me largou... Ela<br />
olhava o jornal e dizia sempre - “Essa mulher, Milena Monteiro, que vive, Rúbis! Ela é que tem<br />
as coisas que faz a gente ter sabor de viver...” - Aí me saiu a notícia de você comprando o anel<br />
por cinquenta milhões, ela não falava noutra coisa... Tinha um sujeito que faz tempo oferecia<br />
até capa de pele pra ela. O sujeito é casado e oferecia o mundo e fundo pra minha Carmosa... Aí<br />
ela leu a notícia do anel... Não adiantou eu roubar, levar ela pra comprar vestido em Copacaba-<br />
na... Ela foi embora com o sujeito que é casado.”<br />
Mais adiante Rúbis vai completar o raciocínio, fechando a sua exposição:<br />
“RÚBIS - /.../ Ela te adorava muito... Ela me largou por tua causa, porque você é feliz, entende?<br />
Porque você ri nas fotografias.”<br />
A partir daí, ele obriga Milena a fazer todos os trabalhos que sua mulher fazia, como se<br />
fosse um gesto de reeducação social a que ele submetia à milionária, para que ela sentisse em<br />
sua pele a dureza do trabalho que a sua esposa era obrigada a suportar, e de como também a<br />
exposição de sua riqueza humilhava-o e enchia de fantasias a cabeça da ex-mulher.