Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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1.11 - Por Favor, Moça, não morra<br />
Helena resolve morrer. Liga o gás e telefona para Mariano, animador de um programa<br />
de televisão, de quem ela é fã. Liga para dizer que vai morrer. Mariano percebe a sinceridade da<br />
moça. Pede para ela, por favor, não morrer. A moça está decidida. O tempo é curto. Mariano<br />
pede ajuda à polícia, através dos seus assistentes. Vai conversando com ela, procurando saber o<br />
motivo do gesto. O marido deixou-a, ela se sente só, foi demitida do emprego. A vida lhe mos-<br />
trou a face da inutilidade. Nada lhe interessa mais. A morte é o caminho. Mariano força a moça<br />
a falar. Aos poucos, descobre seu nome, sua profissão, seu endereço. A polícia acompanha toda<br />
a conversação dos dois. Descobertos os dados básicos de sua identidade, a polícia entra em a-<br />
ção: localiza o apartamento, arromba a porta e salva a moça da morte no instante final.<br />
Como resolução, este texto assemelha-se com ATestemunha, com a polícia invadindo o<br />
apartamento e salvando a moça.<br />
2. Balanço Geral: Violência e Mistério<br />
No Ciclo de Debates do Teatro Casa Grande, realizado entre os dias 7 de abril e 26 de<br />
maio de 1975, no Rio de Janeiro, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> falava da televisão brasileira e fazia a avaliação<br />
crítica do que acontecia com a TV naquele momento: “A televisão brasileira é, atualmente, um<br />
veículo quase fundamentalmente projetado para falar com a chamada classe média compradora<br />
/.../ Ela, à medida que se foi implantando industrialmente, que foi desenhando diante de si a sua<br />
fisionomia, se justapôs àquela classe que tinha condições de consumir os produtos que anuncia-<br />
va a tal ponto que a programação da TV Globo, por exemplo, é de um bom gosto, de um tim-<br />
tim-tim, de um rosinha, de um empacotadinho, de um bonitinho, e de tudo gravadinho, tudo<br />
assexuadozinho, tudo muito asséptico, é aquela coisa tão de bom gostinho, que eu já não reco-<br />
nheço na televisão brasileira um veículo de comunicação de massa” 84 .<br />
84 PONTES, <strong>Paulo</strong>. Ciclo de Debates do Teatro Casa Grande. Rio de Janeiro: Inúbia, 1976, p. 132.