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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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ela voltou-se contra si mesma, contra o ato de dizer. Entre 68 e 76, no teatro brasileiro, há um<br />

brutal combate à palavra” 60 .<br />

Tânia Brandão, num artigo publicado pela revista Ensaio, já tinha uma visão bastante<br />

negativa do valor da palavra no palco: “Gerada a partir desta base histórica, a “estética da pala-<br />

vra” eclodiu após a grande crise teatral iniciada em 1968, marcada pela necessidade institucio-<br />

nal de erigir um sistema oficial de teatro. A essência da crise é o desejo de estabilização do tra-<br />

balho artístico, consolidação mínima <strong>das</strong> conquistas de linguagem efetua<strong>das</strong> a partir dos anos<br />

cinquenta. Crise cultural em que o sistema teatral brasileiro revelou-se incapaz para sustentar o<br />

aprofundamento de suas questões específicas. É o momento da “diluição”, em que desaparecem<br />

os grandes grupos, surgem às montagens por ator, e não se compreende mais (ou não se deseja<br />

mais) qualquer questionamento do palco. Iniciou-se uma luta declarada contra a inquietude -<br />

não importa definir-se o que, neste quadro de caricatura, “inquietude” significa. A cena em que<br />

a palavra predomina é um objeto de eleição cômodo. Pensava-se que aí estaria mesmo a possi-<br />

bilidade de construir um Teatro do Brasil” 61 .<br />

Esse texto da Tânia Brandão colocava o teatro diante de pelo menos três problemas:<br />

Primeiro: consolidação mínima <strong>das</strong> conquistas de linguagem efetua<strong>das</strong> a partir dos anos cin-<br />

quenta.<br />

do palco.<br />

Segundo: não se compreendia mais (ou não se desejava mais) qualquer questionamento<br />

Terceiro: a cena em que a palavra predomina é um objeto de eleição c”modo.<br />

Não é bem assim. A conquista de linguagem efetuada a partir dos anos cinquenta já es-<br />

tava absolutamente concretizada pela própria história. Ninguém pode negar a importância que<br />

grupos como Arena, Oficina e Opinião, além dos CPCs e sem esquecer o TBC (e é possível<br />

juntá-los todos aqui, porque todos, de diferentes modos, à sua maneira, contribuíram profunda-<br />

mente com a consolidação da cena nacional), e outros tantos grupos menores que a história mal<br />

registra, tiveram fundamental papel na construção da cena, da escritura do texto e numa inter-<br />

pretação muito própria. Em 1968, as linguagens adquiri<strong>das</strong> na década anterior e ao longo da<br />

década de 60, já estavam perfeitamente estabiliza<strong>das</strong>, e a luta travada dentro do teatro com a sua<br />

linguagem não passava naquele momento pela consolidação de coisa nenhuma, mas sim, e isto<br />

60 DAS NEVES, João. “A retomada de um caminho”. In <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> - a arte da resistência. Op. cit. p. 20.<br />

61 BRANDÃO, Tânia. “A estética da palavra”. Ensaio - Teatro nº 5. Rio de Janeiro, Achiamé, p. 17.

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