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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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6.6.1 - A ascensão da classe média<br />

Diz o texto: “A brutal concentração da riqueza elevou, ao paroxismo, a capacidade de<br />

consumo de bens duráveis de uma parte da população, enquanto a maioria ficou no ora-veja.<br />

Forçar a acumulação de capital através da drenagem de renda <strong>das</strong> classes subalternas não é no-<br />

vidade nenhuma /.../ No futuro, quando se puder medir o nível de desgaste a que foram subme-<br />

ti<strong>das</strong> as classes subalternas, nós vamos descobrir que a revolução industrial inglesa foi um mo-<br />

vimento filantrópico, comparado com o que se fez para acumular o capital do milagre” (p. xi).<br />

Esse é o quadro geral no qual se fundamenta a sua reflexão. O desenvolvimento dele<br />

surge agora: “É indiscutível que o autoritarismo foi condição necessária à implantação de um<br />

modelo de organização social tão radicalmente antipopular. A autoridade rigidamente centrali-<br />

zada permitiu que se pusesse em prática o elenco de medi<strong>das</strong> (política salarial, monetária, tribu-<br />

tária etc.) que modernizaram, à feição capitalista, uma parte da sociedade brasileira, enquanto<br />

se intensificava o processo de empobrecimento da parte maior” (p. xii).<br />

Com base na concentração de riqueza e no autoritarismo como forma de consolidar essa<br />

concentração, emerge a classe média como beneficiária menor do sistema: “No movimento que<br />

redundou num avanço tão grande dos interesses <strong>das</strong> classes dominantes sobre os <strong>das</strong> classes<br />

subalternas, as cama<strong>das</strong> médias têm desempenhado um papel fundamental. Elas, ao lado do<br />

autoritarismo, e de forma mais profunda, têm legitimado o milagre. Seria ingênuo, a partir daí,<br />

fazer qualquer julgamento moral da classe média brasileira. Se a raiz do problema fosse moral,<br />

viver não dava trabalho nenhum. A verdade é que o capitalismo caboclo atribuiu uma função,<br />

no tecido produtivo, aos setores mais qualificados <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> médias. Não apenas como com-<br />

pradores, beneficiários do desvario consumista, mas, sobretudo, como agentes da atividade e-<br />

conômica” (p. xii).<br />

A partir dessa constatação, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> concluiu que o capitalismo, então, passou a a-<br />

tribuir função mais dinâmica aos segmentos médios da sociedade. Mas, antes de receberem essa<br />

atribuição, havia (num outro ponto de seu raciocínio) uma certa tradição de rebeldia nos setores<br />

intelectualizados da pequena burguesia: estavam presos, assim como a sua classe, a uma estru-<br />

tura social rígida, quase imóvel, dando vez para que a intelectualidade nascida na camada média<br />

vivesse a sua rebeldia traduzida em ironia, deboche, boemia, fascínio pela utopia e “um certo<br />

orgulho da própria marginalidade”. De todo modo o inconformismo, “e a disponibilidade ideo-<br />

lógica de setores da pequena burguesia forma em muitos momentos de nossa história, instru-

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