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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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que tem interesses e quer lutar por eles, e representa para ele num teatro grande, você passa a<br />

ter uma referência concreta em torno da qual realiza sua pesquisa. Esse público dá, ao mesmo<br />

tempo, concretude e racionalidade à sua pesquisa, à sua experiência. Esse é um público que<br />

pode popularizar a narrativa teatral e, ao mesmo tempo, dar concretude e racionalidade (porque<br />

esse público é a própria realidade) ao repertório do teatro brasileiro. O fato é que está provado<br />

que há, em to<strong>das</strong> as cama<strong>das</strong>, muito mais gente interessada em ver teatro do que o teatro que<br />

nós fazemos é capaz de atingir. Então só resta uma saída: ajustar a nossa capacidade criadora à<br />

sensibilidade desse grande público. Fora disso, é ficar na boutique, recebendo todo dia aquela<br />

meia dúzia de pessoas, numa sala pequena, que coagula a sensibilidade do público. Público<br />

grande e diverso numa sala de espetáculo ampla - isso dar ao teatro brasileiro mais concretude,<br />

mais substância social, mais ajustamentos aos grandes temas da vida brasileira, dar ao teatro<br />

brasileiro, sobretudo, mais teatralidade” 151 .<br />

Fernando Peixoto, em artigo publicado no jornal Correio <strong>das</strong> <strong>Arte</strong>s, disse que, até aquela<br />

data, Gota D'água tinha realizada mais de 300 apresentações, recebendo um público de cerca de<br />

250 mil espectadores: “Uma cifra espantosa, que fascinava <strong>Paulo</strong> porque era a prova, na prática,<br />

de tudo que ele defendia com paixão e confiança: existe um público imenso para o teatro desde<br />

que este abandone o subjetivismo e o elitismo, aproximando-se da construção de uma cultura<br />

nacional-popular. Toda sua obra como escritor e toda sua incansável participação como intelec-<br />

tual consciente de suas responsabilidades, fiel a seus compromissos, combativo e corajoso, coe-<br />

rente e lúcido, generoso e inflexível, foi esta procura” 152 .<br />

Mesmo doente, como sempre, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> não descansava, e nos últimos meses que<br />

lhe restavam de vida, debruçou-se sobre teses de sociologia e política, direcionando o seu traba-<br />

lho para análises, estruturação de seminários e debates: “Sua preocupação era estudar a defasa-<br />

gem entre o pensamento crítico do intelectual progressista brasileiro e uma realidade que se<br />

transformou, mas que ele, sentindo-se impotente e alimentando esta impotência, insiste em que-<br />

rer estudar a partir dos mesmos valores, dos mesmos conceitos, não revisado. Uma proposta<br />

crítica que tentaria fazer uma sondagem em profundidade em problemas vividos cotidianamente<br />

por todos. Inclusive por ele” 153 .<br />

151 PONTES, <strong>Paulo</strong>. “Artigo Inédito”. Jornal do Brasil, 29 de dezembro de 1976.<br />

152 PEIXOTO, Fernando. Artigo depois transcrito para o livro Teatro em Pedaços. Op. cit. p. 288.<br />

153 Idem, ibidem.

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