14.04.2013 Views

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Mas os dois velhos são profundos conhecedores de música. Isso pode salvá-los da misé-<br />

ria. Sabem que podem oferecer música outra vez, que contorne a insensibilidade de um tempo<br />

sem poesia, sem imaginário, já que o que sai de uma linha de produção não pode exprimir em<br />

profundidade a sensibilidade, a beleza, o pensamento de um povo.<br />

A conclusão desta cena central, e fundamental no texto, beira o patético, numa exacer-<br />

bação de sensibilidade do casal, como se a cena quisesse preencher, como o seu pranto fácil, a<br />

insensibilidade que os autores pré-determinam no mundo:<br />

“EUGÊNIO - Você chorou com minha idéia, minha velha. É isso, eu sabia... A gentileza, a de-<br />

licadeza, a sensibilidade são coisas permanentes... Você sentiu Eugênia, eu estou certo... A na-<br />

tureza humana é tecida com fios muito delicados...” (p. 64).<br />

5.3 - Acreditando na aventura humana<br />

Eugênio, o que foi vítima de um tempo insensível à sua música, o que ficou na miséria,<br />

o que teve um filho paralítico, e por isso tudo não pode evitar ou fugir dos mecanismos de ex-<br />

ploração econômica engendrados pelo capitalismo, é, contudo, uma personagem positiva, por<br />

acreditar que alguma coisa no homem há de resistir. Os “fios muito delicados” da natureza hu-<br />

mana, julga ele, são mais fortes que a opressão, que a injustiça, que a letra morta da lei. Eugê-<br />

nio acredita que a aventura humana tem sentido. É isso o que ele tenta dizer ao juiz, no movi-<br />

mento final do texto, quando do julgamento sobre o direito de exploração comercial do garoto:<br />

“EUGÊNIO - Meritíssimo Juiz: nós somos pessoas pacíficas, honestas, respeitadoras da lei.<br />

Nossa vida é um culto permanente às melhores aspirações do ser humano, seu sentimento, suas<br />

manifestações de humanidade, espírito criador e capacidade associativa. Temos vivido momen-<br />

tos dolorosos, mas conhecemos, também, momentos de glória, de verdadeiro triunfo. Se bem<br />

que, a cada instante, forças anti-sociais tenham tentado sabotar o que existe de melhor na na-<br />

tureza do homem, nós continuamos achando que a aventura humana tem sentido. Por isso que-<br />

ro, ao iniciar a minha exposição, indicar que ser discutido aqui, antes de tudo, um princípio...<br />

(p. 74).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!