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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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5. A volta ao Rio<br />

O “teatro agressivo”, por trás de sua formulação teórica, manifestava certo desejo quase<br />

religioso de catarse, de uma grande purgação coletiva, como percebeu Anatol Rosenfeld 65 . Pau-<br />

lo <strong>Pontes</strong> e a turma da “palavra”, por outro lado, propunham outra coisa: certa aliança com a<br />

classe média (que muitas vezes chamaram de simplesmente “povo”); e que o teatro não perdes-<br />

se a perspectiva histórica do país; o não desespero; a não dissolução do poder de luta.<br />

Não cremos que esta postura fosse melhor ou pior do que a outra: eram os problemas<br />

postos à mesa no momento: ou se exercitava uma agressividade primal ou um convencimento<br />

racional. A primeira postura, profundamente mergulhada em um determinado esquema de van-<br />

guarda, desmanteladora de mitos, escatológica, em algum ponto beirando o misticismo. A se-<br />

gunda, herdeira da racionalidade do realismo, ou, como quer Tânia Brandão, do materialismo<br />

dialético. Só não é verdade que operando a palavra no nível do saber, esta segunda corrente<br />

empobreceria qualquer poesia, como afirmou Tânia Brandão.<br />

O que nos parece importante assinalar é que, para aquela geração de artistas formados<br />

dentro do CPC - ou de movimentos semelhantes - continuava a prevalecer à arte como princípio<br />

didático. Não é por acaso que Boal, ao estruturar o seu método, o chame precisamente de Tea-<br />

tro do Oprimido, título tirado do livro em que <strong>Paulo</strong> Freire demonstra o funcionamento do seu<br />

método de alfabetização, Pedagogia do Oprimido.<br />

Nem é preciso dizer que <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> também via a arte com o mesmo propósito.<br />

Paraí-bê-a-bá foi a sua primeira peça, a rigor, sendo que ele um ano antes se desligara do grupo<br />

Opinião.<br />

Bibi Ferreira conta que em 1968, depois da estréia de Paraí-bê-a-bá, Nadia Maria, vol-<br />

tando de uma viagem pelo Nordeste, conversou com Almeida Castro, então diretor artístico da<br />

TV Tupi, sobre “um rapaz muito novo que tinha feito alguns trabalhos no Opinião do Rio e<br />

estava trabalhando numa rádio em João Pessoa. Fazendo uma programação muito inteligente.<br />

Almeida Castro decidiu conhecer esse “fenômeno” que havia trocado o Rio pelo Nordeste. Via-<br />

65 ROSENFELD, Anatol. Op. cit.

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