Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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condê-lo do avô figura enigmática, calada, que testemunha tudo o que acontece com a neta. O<br />
avô se dirige à casa do bicheiro e pede duzentos contos. Nelsinho percebe que o avô não fala.<br />
Lê o bilhete que o velho lhe apresenta.<br />
Enquanto isso, Terezinha, percebendo que a situação não tem saída, resolve ceder para<br />
salvar a família. Sua mãe resiste. Mas ela sabe que não há outra solução.<br />
O avô, de posse do dinheiro dado pelo bicheiro, compra um revólver, volta à casa do<br />
bandido. Nelsinho está se perfumando, preparando-se para sair com Terezinha. O avô toca a<br />
campainha. Nelsinho vai atender. O velho descarrega no bicheiro o revólver que comprara com<br />
o dinheiro que ele lhe dera, julgando que seria para compra de remédios.<br />
O velho avô, no seu mutismo, também percebeu que a situação era sem saída.<br />
O texto é curto, como todos os outros dessa série. Mas tem uma sequência de corte e<br />
montagem da ação muito ágil, muito rápida, definindo em pouco tempo personagens, situação e<br />
conflito, e no caso deste, cumprindo, ironicamente, uma situação que o título já diz sem saída.<br />
1.2 - O Justiceiro<br />
Esta é uma história de Western no sertão da Paraíba. Narrada em tom épico, mostra uma<br />
situação em que pessoas alugam o seu sangue-frio para matar.<br />
A sensação criada, desde o início, é de que aquele profissional só existia antigamente,<br />
num tempo muito remoto. Tanto assim que o clima criado pelos autores, mais lembra velhos<br />
filmes de cowboy com seus indefectíveis bandidos e mocinhos do que propriamente uma cida-<br />
dezinha do interior.<br />
Logo no início, uma voz vai pondo o espectador dentro da situação que ser proposta.<br />
Ao contrário de Sem Saída, este texto não apresenta imediatamente os pólos de conflito, mesmo<br />
porque aqui não há conflito algum, não entre personagens. O que acontece neste texto é uma<br />
expectativa gerada pela presença do Justiceiro na cidade. Expectativa que se avoluma a medida<br />
que as diversas personagens vão se definindo. Em contraposição ao movimento <strong>das</strong> demais per-<br />
sonagens, o Justiceiro passa todo o tempo impassível, imobilizado, concentrado na sua função<br />
de justiceiro. Mas é exatamente esta posição de repouso, do ponto de vista dramatúrgico, em<br />
que ele se encontra, que gera, não o conflito de objetivos ou idéias, mas o medo entre as diver-<br />
sas personagens que pensam que o Justiceiro está ali para matá-las. Esse medo é o eixo da ação.