14.04.2013 Views

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sos ridículos de censura, mas, para exemplificar, sem sair de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, o sem-limite despó-<br />

tico da censura, é bastante lembrar um caso contado por <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> numa conferência dada<br />

em Fortaleza: dizia <strong>Paulo</strong> que no show que escreveu para Elizete Cardoso havia uma rubrica no<br />

texto: “Canhão Móvel”. Ou seja: em algum momento um potente refletor móvel deveria criar<br />

um círculo de luz em torno da cantora. Diz <strong>Paulo</strong> que a censura percebeu a periculosidade da<br />

indicação e, simplesmente, cortou a rubrica, que é a parte do texto não falada 117 .<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> não se conformava com a existência da censura. Eis o que ele disse a Sér-<br />

gio Fonta, a propósito da criação do Conselho Superior de Censura, em 1975: “No momento<br />

que há o impasse e diz-se que vai ser criada uma instância superior de censura, eu, como pessoa<br />

ligada diretamente ao problema, não posso dizer que estou a favor do Governo. Se disser que<br />

estou, ele faz o Conselho que quiser e depois diz que foi o que nós quisemos. Digo sempre: em<br />

relação à censura tenho uma posição de princípio. Acho que a obra de arte, de pagamento, não<br />

deve receber nenhum tipo de censura. Está aí a história da cultura para demonstrar que a cen-<br />

sura sempre foi maléfica. Não me importa se o propósito do Governo é melhorar ou atenuar o<br />

problema criando um Conselho Superior. O que me importa é que quanto à censura eu sou con-<br />

tra e faria uma besteira crassa se dissesse que estou a favor, pois não está em mim criar um<br />

Conselho de Censura. Como não sou eu que vou fazer, não posso avalizar, na qualidade de pes-<br />

soa prejudicada, uma proposta sobre a qual não tenho controle. Sou contra a criação de qual-<br />

quer instância de censura, seja feita por policial ou por intelectual, não me interessa” 118 .<br />

Sônia Salomão Khéde, examinando o problema da censura, fala de sua ilegalidade como<br />

norma jurídica, já que na operação jurídica a proibição fundamenta-se na lei que, por sua vez,<br />

está ligada a um sistema penal. A lei, enquanto interdição, prevê o crime e pune depois do cri-<br />

me ocorrido. No caso da lei de censura, o procedimento é diferente, porque ela se constitui, ao<br />

mesmo tempo, na proibição e punição, impedindo que ocorra o “crime” previsto 119 .<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> lutou como foi possível contra a censura. Uma <strong>das</strong> formas que encontrou<br />

foi a de escrever sobre ela, já que era de escrever que ele vivia. Check-up é a sua contribuição,<br />

embora alusiva, ao problema. É como se fosse a radiografia de um tempo doente, um tempo<br />

sem liberdade.<br />

117 Jornal O Povo, “<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e o novo movimento teatral do Rio”. Fortaleza, 11 de junho de 1976.<br />

118 FONTA, Sérgio. Op. cit. p. 79.<br />

119 KHÉDE, Sônia Salomão. Op. cit. p. 27.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!