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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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centrar entre a força de um homem e o direito de uma mulher, que não pode ser exercido. Nesse<br />

caso, o velho avô, mudo, toma para si a tarefa de exercitar a justiça “moral”, que se traduz pela<br />

defesa do mais fraco. A figura do Justiceiro, no texto O Justiceiro, enigmática como o velho<br />

avô (ele passa grande parte do texto calado), também exerce a defesa do grupo oprimido. Nos<br />

dois casos esta justiça “moral” se repara pela morte. Mas em Um Homem Chamado 320, como<br />

também em A Ferro e Fogo, não é a morte, mas o reconhecimento do dano causado que provo-<br />

ca a reparação. Esta reparação é passiva em Um Homem Chamado 320, no momento em que a<br />

babá do garoto, pela indicação da rubrica, chora por ter traído a confiança ingênua do louco,<br />

atirando-o de encontro à polícia, depois que ela o fizera crer que a polícia viera para prendê-la.<br />

Em A Ferro e Fogo, a mãe do garoto que se matara, teria to<strong>das</strong> as condições de exercitar, à ma-<br />

neira de O Justiceiro, a sua vingança. Mas tudo que ela queria era que Eneida sentisse, durante<br />

cinco minutos, a angústia do momento que a vida se fecha e a morte está por um fio, ou pelo<br />

simples gesto de apertar-se o gatilho de um revólver. O fato de não ter concluído a ameaça feita<br />

no começo do texto, faz com que Eneida comova-se e queira reparar o seu comportamento que<br />

levara um simples garoto, possivelmente talentoso, alma fraca, à morte. Mas o que Eneida não<br />

sabia era que os cinco minutos em que a sua estudada postura de estrela veio ao chão, todo o<br />

seu pavor diante da morte iminente já estava previsto nos versos que ela roubara do garoto. Ao<br />

não concretizar o gesto de matar a cantora, a mãe do garoto instalou em seu espírito a culpa.<br />

O limite em que as personagens exercem a sua justiça “moral” permeia o fato social, mas não<br />

chega a ser por ele determinado. As situações expostas por <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e Vianinha, mais pare-<br />

cem flashes da vida real sob o intuito de ressaltar a dignidade necessária ao exercício da exis-<br />

tência.<br />

1.6 - De Repente, uma Visita<br />

No texto De Repente, uma Visita vamos encontrar o mesmo problema de justiça “mo-<br />

ral”: um homem invade a casa de uma mulher para vingar-se do fato de sua mulher tê-lo aban-<br />

donado. O homem chama-se Rúbis. A mulher, Milena. Ele, mecânico. Ela, milionária, que<br />

comprara um anel no valor de cinquenta milhões (não importa no caso a moeda).<br />

Milena vai dar um jantar para os amigos com o propósito de apresentar o seu anel.<br />

Quando Rúbis invade a casa. Então, expõe os motivos que o fez tomar o gesto violento:

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