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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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Em Eurípides, Egeu é rei de Atenas, e está de passagem por Corinto, onde reina Creon-<br />

te. Medeia lhe pede asilo:<br />

“MEDEIA - Ah, peço-te encarecidamente. Faço-me tua suplicante. Piedade, tem dó do meu<br />

infortúnio! Não deixes que me expulsem! Acolhe-me no teu país, na tua casa, no teu lar. /.../<br />

EGEU - Por muitas razões estou disposto, mulher, a outogar-te essa mercê /.../ Eis então as mi-<br />

nhas decisões: vem para o meu país, tratarei de te oferecer hospitalidade, como é meu dever”<br />

(p. 44).<br />

Em <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e Chico Buarque, Mestre Egeu é técnico em rádio e mentor ideológico<br />

da comunidade em que vive. Por isso, diferentemente do Egeu de Vianinha e de Eurípides, ele<br />

incentiva Joana a lutar, se é esse o seu empenho. Mas não a lutar só:<br />

“EGEU - Então, pra você se fortalecer,/ não desperdice esse seu ódio ao vento,/ use esse mesmo<br />

ódio como alimento,/ mastigue, engula, saboreie ele,/ se arraste, morda a língua, arranhe a pele,/<br />

e chore, e reze, e role pelo chão,/ faça <strong>das</strong> suas tripas, coração,/ do seu coração, um corpo fe-<br />

chado/ onde seu ódio fique represado,/ engrossando, acumulando energia/ Até que num deter-<br />

minado dia,/ junto co'o ódio dos seus aliados,/ todos os ódios serão derramados/ ao mesmo<br />

tempo em cima do inimigo/ Numa luta dessas, conte comigo/ Mas inda não d pra brigar agora,/<br />

é bobagem brigar justo na hora/ que o inimigo quer. Sozinha, fraca,/ assim é dar murro em pon-<br />

ta de faca” (p. 112).<br />

G) Em Vianinha, o primeiro encontro de Medeia e Jasão. Ela reclama que o sustentou e<br />

por ele abandonou a casa de seu pai:<br />

“MEDEIA - Eu não pensei nos meus filhos? Você pensou? Pensou em mim? Deixei minha casa<br />

execrada por meu pai, meu irmão, toda a minha gente! Te dei dois filhos! E você não fez legal<br />

nossa união e eu aceitei, cega de confiança, porque íamos esperar melhores dias, e trabalhei por<br />

você, e ouvi teus desânimos, tua vacilação. Você perdeu emprego. Ganhava misérias por aí to-<br />

cando violão /.../ paguei pra você comprar o direito de gravar um primeiro disco que só nós<br />

ouvíamos e mais ninguém! Se você não tivesse filhos, Jasão, podia ir embora e eu nem me in-<br />

comodava, porque um homem que não é capaz de manter na fortuna um amor que o sustentou<br />

na desgraça, é um fraco, e não merece missa. Mas você tem filhos e esqueceu disso. Logo que a

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