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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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contavam com o apoio da população para os seus projetos cheios de uma utopia que não tinha<br />

correspondência alguma com a realidade que o país vivia. E a realidade é que a massa, ao con-<br />

trário do que pensavam, não é revolucionária. A revolução também exige uma cultura revolu-<br />

cionária. E esta só a tem quem dispõe de tempo para adquiri-la. Não é o caso do povo.<br />

Carlos Estevam Martins, primeiro presidente do CPC, disse que o maior problema que<br />

enfrentavam, não era montar espetáculos que levariam à massa (isto eles faziam com imensa<br />

facilidade). O problema era encontrar "estruturas de conexão entre o grosso da população e os<br />

grupos culturais politizados que queriam sair fora dos circuitos elitistas" 21 . O problema que<br />

enfrentavam era entrar em contacto com o povo, encontrar qual a linguagem do povo. Carlos<br />

Estevam Martins cita um exemplo da tentativa de encontro entre o intelectual e o povo: "Uma<br />

vez, fomos com a carreta para o Largo do Machado, estávamos fazendo um espetáculo em um<br />

dos lados da praça, enquanto que no outro havia um sanfoneiro e um sujeito tocando pandeiro.<br />

Apesar de todo nosso equipamento de som e luz, o sanfoneiro e o pandeirista juntavam mais<br />

gente do que nós" 22 . Como compreender que um pandeiro atraísse a atenção do povo mais do<br />

que um carro teatralmente aparelhado? O que é mais teatral, o que resulta melhor na comunica-<br />

ção artística com o povo? O som tímido do pandeiro ou o som potente dos amplificadores? Es-<br />

te, talvez, fosse um problema para a estética. Mas o teatro do CPC não estava interessado em<br />

estética. O seu interesse era a política e de como, usando a arte como álibi, fazê-la instrumento<br />

da transformação política que se desejava.<br />

Enquanto não se adquiria a consciência da arte como mediadora entre mundos opostos 23 ,<br />

o CPC tocava o barco à sua maneira, com os artistas escrevendo peças de teatro em cima de<br />

uma notícia de jornal, por exemplo; apresentando o espetáculo na primeira favela, na primeira<br />

esquina, no primeiro sindicato que aparecesse. Acreditavam que o povo estaria ao lado deles, e<br />

eles, por sua vez, ao lado do povo em marcha para a revolução que viria. Não tinham consciên-<br />

cia da gravidade do momento que viviam e da dimensão da tragédia que estaria por acontecer<br />

ao país. Carlos Alberto de Oliveira (Caó), que fora Vice-Presidente da UNE no biênio 1962/63,<br />

afirmou que tinham eles muitas ilusões quanto à sua própria força política naquele momento de<br />

21 MARTINS, Carlos Estevam. "História do CPC". S. <strong>Paulo</strong>, <strong>Arte</strong> em Revista, nº 3, p. 78.<br />

22 Idem, ibidem, p. 78.<br />

23 Ferreira Gullar afirmou que Vianinha (só para citar um expoente) compreendera (na fase Opinião) que o melhor<br />

teatro político tinha que ser, ao mesmo tempo, o melhor teatro. - Apud Sérgio Kraselis. S. <strong>Paulo</strong>, revista<br />

Problemas nº 9, p. 18.

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