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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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atribui à sua ignorância o diálogo dos surdos que travou com o teatro. E foge <strong>das</strong> casas de espe-<br />

táculo” (p. VII).<br />

Ou ainda: “O teatro da província que tiver a consciência de que a capacidade perceptiva<br />

do seu público é pouco exercitada /.../ ter de ir buscar na consciência coletiva da comunidade<br />

para a qual representa os motivos, os elementos de sua dramaturgia” (p. VII).<br />

Mas é preciso esclarecer que para <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> não se trata de desprezar Lorca ou<br />

Molière (os autores tomados como exemplo no prefácio). O que importa mesmo é que, qual-<br />

quer que seja o texto, qualquer que seja o autor, seja bem dito, e estabeleça comunicação com o<br />

público, uma vez que, segundo ele, ao público ninguém engana.<br />

Então, qual seria a solução para o impasse criado por um teatro que, do ponto de vista<br />

técnico está defasado e cujo público está culturalmente despreparado? <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> diz: “Se o<br />

que eu sei - e posso - fazer é contar bem uma piada, então que eu conte a piada, e o público, em<br />

resposta, vai gostar da piada, e do teatro” (p. VIII).<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> se dá ao trabalho de esclarecer que essa postura não pode ser tomada como<br />

um critério para a criação artística, uma vez que, segundo ele, qualquer artista tem o direito e o<br />

dever de tentar uma formulação cada vez mais complexa, cada vez mais rica e profunda de sua<br />

obra. Ele então considera que, do ponto de vista estético, corre um risco calculado. Mas avisa<br />

que faz assim porque respeita demais o público, e porque estabeleceu também, como centro de<br />

sua atividade, a comunicação com ele, e não o exercício da expressão pura. Avisa ainda que<br />

quem fizer como ele estar duplamente certo, porque “só é verdadeiramente expressivo, nos<br />

diversos níveis em que se dá a criação artística, o que comunica” (p. VIII).<br />

2. O Texto<br />

A primeira coisa a chamar a atenção em Paraí-bê-bá é a inexistência de individualidade<br />

para as personagens. Ou por outra: elas não têm psicologia que as caracterize. As dezenas de<br />

personagens que intervêm nas cenas possuem uma existência meramente nuclear: aparecem,<br />

compõem a cena e desaparecem. Os coros e cantores, segundo Anatol Rosenfeld 49 , são um dos<br />

49 ROSENFELD, Anatol. O Teatro Épico. S. <strong>Paulo</strong>: Perspectiva, 1985, p. 159.

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