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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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4. A crise no Palco<br />

M. Berthold afirma que o lema do teatro em crise não é nenhuma invenção do século<br />

XX 54 . O teatro carrega consigo todos os anseios dos homens e <strong>das</strong> sociedades. O teatro é a arte<br />

da permanência da crise. E como tal, como nenhuma outra arte, é capaz de refletir com clareza<br />

a crise que as sociedades atravessam.<br />

No ano de 1968, em que <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> escrevera e montara Paraí-bê-a-bá, o teatro brasi-<br />

leiro refletiu profundamente a crise que então a sociedade atravessava. A crise vivida pelo tea-<br />

tro era, sobretudo, de linguagem. O problema era encontrar a linguagem adequada ao público, a<br />

que viria em resposta à angústia do público naqueles anos difíceis.<br />

Citando Ionesco, Berthold deduz que a nossa época perdeu a consciência profunda do<br />

seu destino 55 . Esse fenômeno moderno, em termos formais, tratando-se de linguagem especifi-<br />

camente teatral, traduz-se em textos cuja organização é profundamente hermética, chegando<br />

mesmo a constituir-se como uma espécie de código para iniciados. Muitas vezes esses textos,<br />

refletindo as conquistas do teatro do Absurdo, são uma soma de referências culturais as mais<br />

diversas do que exatamente texto previamente organizado para o palco. A esse tipo de texto,<br />

hermético, muitas vezes até incompreensível, dá-se o nome de “vanguarda”. O curioso, atual-<br />

mente, é que as “vanguar<strong>das</strong>” perderam seu papel histórico, esvaziaram-se de conteúdo e passa-<br />

ram a repetir fórmulas já consagra<strong>das</strong> de outras vanguar<strong>das</strong>. O nosso tempo perdeu a noção do<br />

novo e, consequentemente, do revolucionário.<br />

Mas se chegamos a uma crise, especificamente em termos de linguagem teatral, a raiz<br />

desse problema, para nós, no Brasil, já se delineava desde meados da década de 60, quando<br />

parte do teatro eliminou do palco a palavra e instituiu a agressão como a linguagem capaz de<br />

atingir o público como uma bofetada. Aliás, “Dar uma, duas, três, muitas bofeta<strong>das</strong>” é o título<br />

do artigo de Tite de Lemos (um dos encenadores do chamado Teatro Agressivo), na Revista<br />

Civilização Brasileira, de julho de 1968, na qual consta um famoso artigo de Vianinha, “Um<br />

54 BERTHOLD, M. Historia social del teatro/2: Madrid, Guadarrama, 1974, p. 281.<br />

55 Op. cit. p. 283.

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