Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
cionar o momento difícil do teatro, no começo dos anos 70, encontraria resposta do público:<br />
“Eu escolhi esta linguagem de comunicação com o público, tenho as condições básicas para me<br />
comunicar com ele, graças ao que aprendi em rádio, em televisão e em teatro mesmo. Pode ser<br />
que haja alguém que torça o nariz, ache que eu estou sendo servil ao gosto do público, mas eu<br />
tenho muita certeza <strong>das</strong> razões que fazem do meu tipo de experiência teatral uma experiência<br />
importante, inquestionável e, sobretudo, digna” 104 .<br />
E não se enganara. O sucesso de público e crítica apontava como correto o raciocínio de<br />
<strong>Paulo</strong> para aquele momento. Yan Michalski, por exemplo, após a morte de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, co-<br />
mentou: “Como autor ele explodiu em Um Edifício Chamado 200, e acho que foi uma abertura<br />
muito significativa, pois levantou o nível da comédia de costumes carioca, aprofundou o seu<br />
alcance. É curioso que em tão pouco tempo e em tão pouco texto ele tenha conseguido inserir<br />
tantas informações sobre as personagens, a sua vida, as suas aspirações. A peça durava uma<br />
hora. Eu tenho uma vaga lembrança de que na época, a peça, apesar de eu ter gostado muito,<br />
deixava-me com apetite, ela acabava muito bruscamente: e que o próprio <strong>Paulo</strong> reconheceu esta<br />
deficiência, tanto assim que desenvolveu mais a parte final da peça” 105 .<br />
Marco Aurélio Borba e Osvaldo Mendes, em introdução a uma matéria publicada na re-<br />
vista Manchete, observaram entusiasmados: “Nem o cinema, nem o rádio, nem a televisão (com<br />
suas novelas), conseguiram apagar as luzes da ribalta. O Espetáculo teatral continua empolgan-<br />
do as platéias culturais <strong>das</strong> grandes cidades. No Rio e em São <strong>Paulo</strong>, três peças - Tango, Um<br />
Edifício Chamado 200 e A Capital Federal, batem recordes de bilheteria” 106 .<br />
Claro que os autores da matéria desviavam o foco da crise no teatro. Ao invés de centra-<br />
lizá-la na política de destruição <strong>das</strong> oposições, implantada pelo regime militar, eles a conduzi-<br />
ram para o campo <strong>das</strong> linguagens da televisão, rádio e cinema, em oposição à linguagem teatral.<br />
Esse erro durou muito tempo, sempre quando se tratou de questionar a crise teatral no Brasil<br />
dos anos 70/80. Mas o entusiasmo dos autores da matéria vale para dar uma idéia de como a<br />
peça fora bem recebida pelo público. Tanto que na sua re-estréia carioca, já com o texto melho-<br />
rado, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> conseguiu uma <strong>das</strong> maiores bilheterias do momento, coisa que ele vinha<br />
buscando há muito tempo, pacientemente estudando os dados do problema que enfrentavam<br />
104 Apud Helena Christina. Op. cit.<br />
105 MICHALSKI, Yan. “Os mitos de Quixote e Medeia”. In <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> - a arte da resistência. Op. cit. p. 22.<br />
106 Apud <strong>Paulo</strong> Melo. “Um artista chamado <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>”. In Jornal da Paraíba. João Pessoa, 2 de julho de 1972.