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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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4. Dr. Fausto da Silva<br />

gel.<br />

Esta peça estreou em outubro de 1972, no Rio de Janeiro, sob a direção de Flávio Ran-<br />

Como diz o próprio nome, trata-se de reelaboração do velho tema medieval já trabalha-<br />

do, entre outros, por Marlowe, na Inglaterra, e por Goethe, na Alemanha.<br />

Fausto é o tema do homem ambicioso. Em sua origem, a personagem é capaz de vender<br />

a alma ao Demônio, para obter os prazeres mundanos e o domínio <strong>das</strong> ciências.<br />

Atualizando o tema, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> fez o seu ambicionar o aumento do Ibope, fundamen-<br />

tal para ele, Fausto da Silva, apresentador de um programa de televisão que recebe seu nome. É<br />

a primeira obra que <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> adapta de um tema antigo.<br />

Fausto, o da Silva: seu sobrenome o associa a uma figura popular, alienando-o de sua<br />

aura diabólica inatingível, transfigurando-o em algo (ou alguém) mais presente, humano, um<br />

tipo comum.<br />

Mas não um tipo qualquer: um apresentador de programa de televisão. Portanto, alguém<br />

especializado em comunicação de massa. Alguém capaz de manter alto o índice de Ibope no<br />

horário nobre.<br />

Alguém que, como o próprio <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, conhecia profundamente os segredos, os<br />

“macetes” da linguagem telecomunicativa. <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> refletia mais uma vez sobre o fenôme-<br />

no da televisão. Em Dr. Fausto da Silva, criou um texto cuja ação é condensada em movimen-<br />

tos diferentes, que concorrem para um mesmo fim, sinestesicamente articulada por um autor já<br />

pleno em seu domínio da linguagem teatral. Seu Fausto é, a seu modo, a exemplo do velho<br />

Fausto de Marlowe ou Goethe, um texto filosófico.<br />

Como de hábito, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> teoriza sobre o problema que o motivou a escrever, no<br />

texto de apresentação da peça. É muito curioso o modo como <strong>Paulo</strong> encontrou na personagem<br />

Fausto (da Silva) o artifício que exemplificaria a miséria do homem comum. <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> es-<br />

creveu: “O subdesenvolvimento é um lençol curto: se cobre os pés, descobre a cabeça; se cobre<br />

a cabeça, os pés ficam de fora. Subdesenvolvimento é sinônimo de escassez: não há o bastante<br />

para todos. Isso coloca o país subdesenvolvido diante de duas alternativas: ou todos comem<br />

pouco, ou uma parte come tudo e a outra fica lambendo os beiços. O modo de produção capita-<br />

lista opta pela segunda alternativa para gerir a pobreza do subdesenvolvimento - e tem lançado<br />

mão de um impressionante repertório de fórmulas para conseguir a façanha. A última, uma má-

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