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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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sério. Pelo contrário, o espectador sente que está pisando chão firme durante o tempo todo. Esse<br />

anseio de “sentir-se em chão firme” - que reflete uma necessidade infantil de proteção, muito<br />

mais do que o seu desejo de um frêmito de emoção - é satisfeito. Só ironicamente se preserva o<br />

elemento da excitação” 89 .<br />

Charles J. Rolo diz que a história de mistério é um jogo cheio de suspense em que o es-<br />

pectador não pode perder. Se o espectador imagina a resposta, sente-se diabolicamente inteli-<br />

gente, e se não a imagina, encontrar a satisfação de uma agradável surpresa 90 . E se T. W. A-<br />

dorno considera que há alguma “necessidade de proteção familiar” no fato de mistérios em his-<br />

tórias gerarem tensão superficial no espectador, a conclusão de Charles J. Rolo, em contraposi-<br />

ção, é surpreendente: a solução para o mistério do fascínio <strong>das</strong> histórias de mistério ter de apli-<br />

car-se a todos os tipos em todos os tempos. Ter de ser alguma coisa muito fundamental para<br />

explicar uma atração que se tem mostrado tão persistente, tão vigorosa e tão difundida: “Essa<br />

alguma coisa, cremos nós, tem escassa relação com a concatenação <strong>das</strong> pistas ou acúmulo de<br />

cadáveres, e profunda relação com o maior de todos os temas de ficção - a explicação do desti-<br />

no do homem. Segundo nossa hipótese, a história de mistério, na essência, é uma história meta-<br />

física de sucesso” 91 .<br />

Muniz Sodré revela os mecanismos da comunicação de massa: quanto menor é a taxa<br />

matem tica de informação de uma mensagem, maior a sua capacidade de comunicação: “Quan-<br />

to mais o signos da mensagem (os elementos culturais de um programa de televisão, por exem-<br />

plo) forem familiares ao público, por já constarem de seu repertório, maior ser o grau de co-<br />

municação” 92 .<br />

Muniz Sodré fala-nos de teoria da comunicação: os signos da mensagem são decifráveis<br />

segundo o repertório de quem os recebe. No caso dos textos que vimos mapeando até aqui, os<br />

signos básicos são a violência e o mistério, alternados ou compostos no mesmo texto. A deci-<br />

fração pode-se dar em vários níveis: sociológico, político, psicológico, como insinua T. W. A-<br />

dorno, ou metafísico, como o quer Charles J. Rolo.<br />

89 ADORNO, T. W. “A Televisão e os Padrões da Cultura de Massa”. Apud Bernard Rosemberg. Op. cit. p. 548.<br />

90 Apud Bernard Rosemberg. Op. cit. p. 197.<br />

91 Idem, ibidem, p. 198.<br />

92 SODRÉ, Muniz. A Comunicação do Grotesco. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 63.

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