14.04.2013 Views

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

que tentar, de to<strong>das</strong> as maneiras, a reaproximação com nossa única fonte de concretude, de<br />

substância e até de originalidade: o povo brasileiro. /.../ É preciso, de to<strong>das</strong> as maneiras, tentar<br />

fazer voltar o nosso povo ao nosso palco. Do jeito que estiver ao alcance de cada criador: com o<br />

show, a comédia de costumes, a revista, com a dramaturgia mais ambiciosa, como se puder” (p.<br />

xvii).<br />

6.6.3 - A necessidade da palavra<br />

Como resultado de tudo o que foi dito, houve, na cultura e, em particular no teatro brasi-<br />

leiro, a perda da palavra. <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> remete seu raciocínio para as experiências teatrais produ-<br />

zi<strong>das</strong> no início da década de 70, cuja característica principal é a ascendência de estímulos sono-<br />

ros e visuais sobre a palavra: “Ao lado de to<strong>das</strong> as pressões amesquinhadoras, que tornaram<br />

impossível a encenação do discurso dramático claro sobre a realidade brasileira, uma fobia pela<br />

razão ia tomando conta de nossa criação teatral. Era improvável que se tratasse de um crise da<br />

razão, num país como este, com tudo por ser feito, e estruturado de forma tão irracional que a<br />

lógica mais estreitamente cartesiana tem eficácia como instrumento de percepção” (p. xviii) -<br />

Eis, então, o que de verdade aconteceu, segundo <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>: “As transformações foram se<br />

acumulando no interior da sociedade sem que a cultura, posta à margem, se desse conta. Até um<br />

ponto em que o processo social ficou muito mais complexo do que a cultura era capaz de en-<br />

tender e formular. E este passou a ser o centro da crise da cultura brasileira: criou-se um abismo<br />

entre a complexidade da vida brasileira e a capacidade de sua elite política e intelectual de pen-<br />

sá-la” (p. xviii).<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> considerava que a “estreiteza dos limites impostos à criação cultural”, ou<br />

por outra, a ação da censura, foi a grande responsável pela crise que se abateu sobre o teatro<br />

brasileiro, mas, mesmo assim, “nós nos iludimos se não reconhecemos que, a partir de determi-<br />

nado momento, houve incapacidade real de pensar nossa realidade” (p. xviii).<br />

De todo modo, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> diz que já no ano de 1975, esse quadro de incapacidade de<br />

pensar a realidade estava mudando, sobretudo em outras áreas, com o surgimento de coisas no-<br />

vas e estimulantes, tais como o jornalismo político, os ciclos de debate do teatro Casa Grande e,<br />

inclusive, a tese de doutoramento. Mas isso só não bastava: “Não foi a razão quem fracassou no

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!