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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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Mas não foi para contar uma história de crime que <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> convidou Chico Buar-<br />

que. Sua pretensão era falar sobre a luta de classes no Brasil. Falar sobre como a classe domi-<br />

nante coopta os melhores quadros <strong>das</strong> classes populares, e como os utiliza para a manutenção<br />

de controle social. Perguntados se a discussão proposta em Gota D’água obteve resposta na<br />

medida esperada, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> afirmou que não, que, do seu ponto de vista, o problema da ha-<br />

bitação popular, na peça, é de segunda importância: “O que existe de substantivo é uma visão<br />

do que é o poder. Gota D'água está discutindo que é impossível tomar-se o poder à força sem o<br />

respaldo dessa sociedade que aí está. E o que se passou na sociedade civil nesses últimos tem-<br />

pos, avalizou a permanência no poder de determina<strong>das</strong> forças políticas. Há um mecanismo na<br />

sociedade civil, que põe e tira do poder. É isto que existe de substantivo em Gota D'água. E a<br />

resposta disso não veio” 142 .<br />

Essa amostra de como o poder exerce o seu domínio, em Gota D'água, constitui a se-<br />

gunda ação da peça, e corre paralela à ação da vingança desesperada de Medeia/Joana que vi-<br />

mos atrás.<br />

Há em Gota D'água dois grupos de personagens: o masculino e o feminino. Os dois<br />

grupos compõem o que seria na tragédia grega o coro. O discurso de Joana, como Medeia, a<br />

amante abandonada, faz-se em Gota D'água através do grupo feminino. É esse grupo que se<br />

preocupa com as dores amorosas de Joana, a sua reação desesperada ante a atitude de Jasão.<br />

Enquanto o discurso político, o conteúdo ideológico que constitui a segunda ação, está posto no<br />

grupo masculino. São eles que avalizam ideologicamente o comportamento de Jasão. São eles<br />

que conduzem, inclusive, a passagem do discurso amoroso, problema de Joana, para o preço<br />

extorsivo que pagam pelas casas em que moram, problema de todos. São eles que fazem o con-<br />

traponto entre o tema eterno, o amor, e o tema em permanência: a necessidade de sobreviver a<br />

qualquer custo.<br />

Para fundir os dois grupos e fazê-los coincidir numa mesma grande ação, <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e<br />

Chico Buarque atribuíram a Egeu o papel de pivô entre os dois grupos. Egeu põe-se todo o<br />

tempo entre os grupos feminino e masculino. Compartilha a dor de Joana e a ajuda. Divide com<br />

os homens o sentimento de injustiça diante dos preços abusivos, <strong>das</strong> prestações reajusta<strong>das</strong>, do<br />

plano de pagamento <strong>das</strong> casas próprias que nunca termina, e, igualmente, ajuda-os.<br />

142 GUIMARÃES, Márcia. Ibidem.

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