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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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O Brasil é um país de muitos países, já foi dito isso tantas vezes. E hoje, cada vez mais,<br />

a despeito do grande avanço tecnológico que representou a televisão nas comunicações, o Brasil<br />

tornou-se um país de dois países: o do sudeste, rico (apesar dos pesares) e gerador de imagens,<br />

e o restante do país, pobre (sobretudo norte e nordeste) e receptor da imagem gerada no sudeste.<br />

A televisão, e aqui não vai nenhum preconceito a priori, destruiu a imagem que o Brasil poderia<br />

ter de si, e fez <strong>das</strong> areias de Ipanema o espelho onde o "outro" país busca em vão a sua imagem.<br />

Em 1962, ainda não era assim. O rádio permitia, como sempre permitiu, que uma emissora nu-<br />

ma cidade produzisse programas para aquela cidade. As rádios locais chegavam muitas vezes<br />

ao ponto de produzirem suas rádio-novelas, como foi o caso da Rádio Tabajara da Paraíba, em<br />

João Pessoa que, na década de cinquenta, formou uma significativa geração de atores que, por<br />

muitos anos, tocou para a frente a arte de fazer teatro.<br />

Praticamente, sem outro meio de comunicação para inibi-lo na concorrência, o rádio vi-<br />

veu no Brasil a sua época de ouro, naquela década. Os cantores do rádio, na Rádio Nacional,<br />

mobilizavam multidões de fãs para os programas de auditório. E num país como o nosso, onde<br />

o analfabetismo é menos do que uma fatalidade histórica e muito mais um projeto político <strong>das</strong><br />

classes dominantes, um país que por isso mesmo pouco podia (e pode) ler jornais, num país<br />

assim, o rádio acabava por ser o grande veículo de comunicação de massas, mais do que a tele-<br />

visão, ainda no seu início, mais do que a imprensa escrita, por conta do óbvio analfabetismo.<br />

Walter Benjamin, no artigo "Observações básicas sobre uma radio-peça", afirma que an-<br />

tes do aparecimento do rádio, quase não se conheciam os meios de divulgação que fossem pro-<br />

priamente populares ou correspondessem a finalidades de educação popular 11 . Nem mesmo o<br />

teatro, que deve somar um número razoável de pessoas num mesmo espaço, nem mesmo o ci-<br />

nema, já tão popular em 1932, ano em que Walter Benjamin escreveu o seu artigo, conseguiam<br />

concorrer em popularidade com o rádio, uma engenhoca que, na sala da sua casa, girava-se o<br />

botão e ele o punha em contacto direto com o mundo. O rádio veio para revolucionar a comuni-<br />

cação, e, consequentemente, intermediar o saber popularizando o conhecimento. É Walter Ben-<br />

jamin quem diz: "Existia o livro, existia a palestra, existia o periódico: todos, no entanto, eram<br />

formas de comunicação que não se distinguiam em nada daquelas, através <strong>das</strong> quais a pesquisa<br />

científica transmitia seus progressos para os especialistas. A popularização se realizava, portan-<br />

to, dentro <strong>das</strong> mesmas formas que a apresentação científica, e por isso estava privada de origi-<br />

nalidade metodológica. Bastava-lhe revestir o conteúdo de certas áreas do saber de uma forma<br />

11 BENJAMIN, Walter. Documentos de Cultura, Documentos de Barbárie. São <strong>Paulo</strong>: Cultrix, 1986, p. 85.

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